O presidente da França, Emmanuel Macron, pede ao primeiro ministro Gabriel Attal que fique no cargo, ao menos por enquanto (Foto: Benoit Tessier/ POOL / AFP)

O primeiro-ministro da França, Gabriel Attal, ofereceu sua demissão nesta segunda-feira (8). Mas o presidente Emmanuel Macron rejeitou e pediu que o chefe de governo permaneça no poder “por enquanto” para “garantir a estabilidade do país”, até que uma nova formação seja escolhida.

A França, antes do final do mês, vai receber dezenas de chefes de Estado e de governo, além de uma multidão, para os Jogos Olímpicos em Paris. Macron ainda viaja para a cúpula da Otan, nesta semana.

Attal, que já havia anunciado no fim de semana que entregaria seu cargo diante da derrota na eleição, havia afirmado que permaneceria no posto o tempo que fosse necessário para permitir que uma transição ocorra sem que um vácuo no poder seja criado.

Seu grupo político terminou em segundo lugar na eleição, com uma forte redução do número de deputados da base presidencial. No total, Macron perdeu 76 assentos no Legislativo. Mas o presidente sinalizou que vai aguardar a estruturação do novo parlamento para escolher o novo governo e solicitou que Attal permaneça no poder durante as próximas semanas.

O primeiro-ministro, com visíveis ambições políticas, foi claro ao se distanciar do presidente, reforçar que a dissolução do Parlamento não tinha seu apoio e que considera que seu trabalho foi fundamental para frear a extrema direita.

Seu campo alerta que não há como um governo ser formado sem a criação de uma bancada com mel menos 240 ou 250 deputados. Ainda assim, não haveria certeza de uma governabilidade mínima.

Quem irá governar?

No dia seguinte à eleição francesa, a mesma pergunta toma conta de partidos políticos, imprensa e a população: quem irá governar a França?

Depois de estabelecer uma frente republicana para impedir que a extrema direita chegasse ao poder, os partidos franceses iniciaram uma verdadeira guerra pelo governo, com líderes alertando para o risco de uma paralisia e de um período de instabilidade política no país. Enquanto isso, o primeiro-ministro Gabriel Attal apresentou sua demissão nesta segunda-feira.

Depois de vencer no primeiro turno, a extrema direita francesa viu todos os principais partidos do país se unirem contra ela. Em cada distrito, o candidato que estivesse melhor colocado passou a ser o único a concorrer contra o grupo de Marine Le Pen. Isso acabou mobilizando votos da esquerda, centro e ecologistas para apenas um nome.

Mais de 220 políticos que estavam no segundo turno abriram mão de suas candidaturas e a estratégia funcionou. Mas ninguém obteve maioria absoluta e a Assembleia Nacional viverá um período de profunda divisão.

Nesta segunda-feira, a Nova Frente Popular, a coalizão de partidos de esquerda, anunciou que irá apresentar um candidato ao cargo de primeiro-ministro ainda nesta semana. O grupo chegou em primeiro lugar na eleição legislativa deste domingo, surpreendendo e somando 182 cadeiras na Assembleia Nacional. Seus líderes passaram a madrugada reunidos, na busca por um nome de consenso. Mas, até agora, um acordo não foi encontrado.

Já opositores de centro e outros partidos alertam que o bloco de esquerda não tem maioria absoluta — 289 cadeiras — e portanto não teria automaticamente o cargo. Jean Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, é rejeitado por Emmanuel Macron, que já declarou que não irá formar um governo sob sua batuta sob hipótese alguma.

“Nos comportar como adultos”

“Estamos com uma Assembleia dividida. Temos de nos comportar como adultos”, disse Raphael Glucksmann, líder socialista na eleição ao Parlamento Europeu. Seu recado foi recebido como um sinal de que outras composições podem ser estabelecidas, rompendo o pacto republicano criado para barrar a extrema direita.

Já François Bayrou, um tradicional aliado de Macron, insistiu que “ninguém venceu a eleição” e sugere que seja criada uma coalização de centro para que haja espaço para governar.

A visão não é compartilhada pela esquerda. Olivier Faure, primeiro secretário do Partido Socialista (PS), indicou nesta segunda-feira que os resultados mostraram “uma clara rejeição do campo presidencial” e que a “única alternativa confiável” era a Nova Frente Popular. Ele garantiu que seu bloco deve apresentar um nome para o cargo de primeiro-ministro ainda durante a semana.

Faure pediu que Macron reconheça sua derrota e disse que foi graças a eles que a extrema direita foi derrotada. “Foi porque pedimos uma frente republicana no segundo turno e o sacrifício de nossos candidatos que o Rassemblement National (RN) não teve maioria.

Mas Marine Tondelier, líder dos Ecologistas e também parte da coalizão, não descarta a possibilidade de uma figura da sociedade civil como primeira-ministra.

“Não vamos passar meses e meses em um estado de instabilidade. A nomeação de um candidato não será fácil”, admitiu ela. “O melhor método é o consenso, encontrando soluções inteligentes coletivamente. Pode ser alguém da França Insubmissa, do Partido Socialista, do Partido Comunista ou dos Verdes. Pode até ser alguém que vá além de tudo isso”, acrescentou Marine Tondelier, não descartando a possibilidade de uma figura da sociedade civil.

Não se descarta tampouco que Macron estabeleça um governo de tecnocratas, ainda que o restante de seu mandato — com mais três anos pela frente — seja duramente afetado.

Com informações da coluna de Jamil Chade / Uol