Anderson Torres é preso em Brasília (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

Exonerado, investigado e preso. O delegado da Polícia Federal (PF) Anderson Torres tornou-se um dos protagonistas do inquérito sobre atos antidemocráticos no Brasil.

Ex-ministro da Justiça do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Torres foi preso pela Polícia Federal na manhã de hoje (14), após chegar da Flórida a Brasília.

Com o fim do governo Bolsonaro, Torres deixou de ser ministro da Justiça e Segurança Pública e foi nomeado como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, cargo do qual foi removido pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), agora afastado, após as invasões em 8 de janeiro em Brasília.

Sua prisão preventiva foi decretada na terça-feira (10/1) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da PF, por supostas omissões intencionais que teriam contribuído para os atos de vandalismo na capital.

Torres era responsável pelo esquema de segurança do Distrito Federal (DF) quando ocorreram as invasões. Ele não estava no país no dia – havia viajado de férias para a Flórida, nos Estados Unidos, onde também está Bolsonaro -, e o policiamento sob seu comando foi considerado insuficiente para lidar com as manifestações.

Também foi ordenada uma operação de busca e apreensão nos endereços ligados a Torres indicados pela polícia, o que levou a um reforço das suspeitas de que o ex-ministro teria agido de forma antidemocrática.

A PF encontrou em sua casa a minuta de um decreto para instaurar um estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e mudar o resultado das eleições de 2022, quando Bolsonaro foi derrotado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), medida considerada inconstitucional por juristas e, agora, amplamente denunciada como indício de uma tentativa de golpe de Estado.

A minuta encontrada na casa do ex-ministro era datada de 2022, com dia e mês em branco, e o nome de Bolsonaro. Ela não está assinada e nunca chegou a virar decreto oficial. Bolsonaro ainda não se pronunciou a respeito.

Moraes determinou ainda, ontem (13), a pedido da Procuradoria-Geral da República, a abertura de um inquérito que tem como alvo Torres, Ibaneis Rocha, o ex-secretário de Segurança do DF Fernando de Sousa Oliveira, que atuava como interino na data das invasões, e o ex-comandante da Polícia Militar do DF Fábio Vieira, para apurar sua responsabilidade em relação ao vandalismo na capital.

Moraes apontou que fatos indicam ter havido omissão e conivência de autoridades do DF, como policiamento insuficiente, autorização para que ônibus ingressassem livremente em Brasília apesar de ser notório que seus ocupantes poderiam realizar atos violentos e antidemocráticos e a inércia em acabar com o acampamento diante do quartel-general do Exército na cidade, “quando patente que o local estava infestado de terroristas”.

Torres nega que tenha contribuído para as invasões em Brasília ou que tivesse a intenção de aplicar o decreto e praticar qualquer ato contra a democracia brasileira. O ex-ministro disse em nota que repudia os atos em Brasília e que sempre pautou-se pelo respeito às leis e instituições como policial, secretário de Segurança ou ministro da Justiça.

“Lamento profundamente que sejam levantadas hipóteses absurdas de qualquer conivência minha com as barbáries que assistimos”, afirmou.

Após sua prisão ser decretada, ele anunciou que interromperia suas férias para comparecer à Justiça e apresentar sua defesa. Demóstenes Torres, um dos advogados que representa o ex-ministro, disse à Agência Brasil que ele voltaria ao Brasil “logo que possível”.

O advogado disse que Torres estava enfrentando dificuldades para comprar uma passagem de volta dos Estados Unidos devido à pane no sistema de controle de voos no país que ocorreu na quarta-feira (11/1).

Com informações da BBC Brasil