Você consegue imaginar uma mulher rica e glamurosa, que vive numa mansão de 2.600 metros quadrados, sendo atendida em um pronto-socorro do SUS (Sistema Único de Saúde)? Pois isso aconteceu com Ana Hickmann há um mês, no dia em que ela foi à polícia denunciar o marido, Alexandre Correa, de agressão física e violência patrimonial, decretando o fim de um casamento de 25 anos.
Segundo contou a amigos e à polícia, Ana havia descoberto dias antes que os problemas financeiros que enfrentava eram bem mais graves do que imaginava e que ela e o filho de 9 anos estavam até sem plano de saúde. Tanto que, após a briga com o marido, a apresentadora foi atendida gratuitamente na emergência da Santa Casa de Itu, que desde 2020 faz parte da rede municipal de saúde da cidade e é mantida por verbas do SUS.
No pronto-socorro, Ana foi atendida às 19h pelo médico André Luiz Narkevitz Pecini. Ela se queixava de dor no cotovelo esquerdo, que três horas antes ficara preso em uma porta de correr da cozinha de sua mansão enquanto ela tentava se desvencilhar de Correa. Ao médico, contudo, Ana não quis “relatar a ocorrência”, e ele deduziu se tratar de “possível queda”.
O ortopedista pediu um raio-x, que não constatou “lesões ósseas agudas”, e deu alta recomendando o uso de tipoia. O atendimento foi rápido até para os padrões de hospital privado. Ana permaneceu no pronto-socorro público durante uma hora e 20 minutos. Chegou e foi embora em um carro da Polícia Militar. O laudo pericial do Instituto Médico Legal confirmou que ela teve “lesões corporais de natureza leve”.
Com diversos negócios, contratos e participação em empresas que faturam até R$ 150 milhões por ano, Ana Hickmann poderia ter usado o melhor hospital particular disponível. Mas, de acordo com sua versão, fazia cinco meses que seu marido, responsável por suas finanças e pela administração de suas empresas, não pagava o convênio médico. Correa nega. Diz que a responsabilidade por esse tipo de pagamento era da assessoria pessoal de Ana, não dele.
Esse foi um capítulo dramático de uma história de turbulência financeira que remonta desde pelo menos à pandemia. Desde 2021, Ana, Correa e a principal de suas empresas (a Hickmann Serviços – HServ) vêm tendo problemas com dinheiro.
Primeiro, deixaram de pagar impostos federais (IRPJ e PIS-Cofins), municipais (IPTU) e condomínios. Depois, fizeram uma série de empréstimos bancários, que totalizam pelo menos R$ 8,5 milhões. O total da dívida, contudo, seria de aproximadamente R$ 40 milhões, de acordo com pedido de recuperação judicial protocolado por Alexandre Correa na Justiça na última quinta-feira (7).
Em entrevista ao Domingo Espetacular, da Record, Ana acusou o marido de ter dilapidado seu patrimônio e de ter supostamente cometido fraudes, desvios e falsidade ideológica:
Eu encontrei documentos, encontrei cheques, encontrei muita coisa que… Algumas, quando eu olhei, eu não consegui identificar pra que serviam, se eram lícitas ou ilícitas, assinaturas que eu tenho certeza que não são minhas”
Ontem (11), o Notícias da TV revelou detalhes de denúncias que Ana fez contra o marido ao Ministério Público e que agora são investigadas em inquérito policial. Ela acusa Correa de ter desviado R$ 25 milhões desde 2018 de suas empresas e de ter falsificado suas assinaturas em cheques e contratos de empréstimos. Ana estima a dívida em R$ 34 milhões.
Outro lado: Correa atribui crise a Ana
Advogado de Alexandre Correa, Enio Murad diz que seu cliente não é responsável pela penúria financeira da maior estrela do elenco da Record. Ele afirma que a crise empresarial começou durante a pandemia, quando Correa estava afastado dos negócios para tratamento de câncer (ele retirou um ninfonódulo do pescoço).
Durante sua recuperação, de acordo com Murad, a marca Ana Hickmann passou por uma grande expansão, e a “empresa assumiu obrigações maiores do que poderia assumir”. Isso, somado ao fechamento de lojas e franquias, agravou o quadro, e ao retornar ao comando das empresas, Correa teve de apelar a empréstimos, mas a situação saiu do controle em julho deste ano.
Foi nessa época, de acordo com Murad, que Ana passou a tirar do marido o controle de suas empresas, e ele deixou de “segurar as broncas” porque não tinha como pagar as contas, entre elas a do plano de saúde.
Murad também nega as acusações de fraude e de falsificação de assinaturas. Sustenta que todos os contratos de empréstimos foram assinados por Ana e que ela sempre soube da situação financeira de suas empresas. De acordo com sua versão, a crise seria consequência pura e simplesmente de apostas empresariais, feitas por Ana, que não deram certo.
Também procurada pelo Notícias da TV, Ana Hickmann não se pronunciou. Sua assessoria alegou sigilo de Justiça, mas não negou a informação de que a apresentadora ficou sem convênio médico.
Na última quinta-feira, ela anunciou a contratação da Legend Investimentos, empresa que tem Roberto Justus e o ex-ministro Paulo Guedes como sócios, para reestruturar suas contas. Ontem, seu marido entrou com processo por calúnia por causa da acusação de desvio de R$ 25 milhões.
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