A construção do poço e do sistema de distribuição de água movimentou a comunidade - Foto: Comunicação FAS / Divulgação

A comunidade quilombola do Tambor, no interior do Amazonas, localizada no Parque Nacional do Jaú, comemora a chegada de um sistema de água potável, com uso de energia solar. A iniciativa faz parte do projeto Água+Acesso, desenvolvido pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e pela Coca-Cola Brasil, que, desde 2017, já beneficiou 37 comunidades tradicionais do estado, impactando mais de 5.600 pessoas com soluções sustentáveis para o abastecimento de água.

“É um sonho realizado”, diz Sebastião Ferreira de Almeida, liderança que nasceu e cresceu na comunidade. “Era algo que as pessoas queriam muito. Inclusive foram anos e anos de promessas de prefeituras, de outras instituições. Mas acabou que a FAS foi a única organização que conseguiu realizar o projeto.”

O sistema implantado utiliza a captação de água de poço subterrâneo, associada a um filtro de tratamento e ao uso de energia solar, assegurando o abastecimento sustentável da comunidade. A estrutura conta com um reservatório com capacidade para 5 mil litros e beneficia 26 famílias, totalizando cerca de 130 pessoas.

A comunidade do Tambor fica às margens do rio Jaú, mas, na época de seca, quando baixa o volume das águas, é necessário descer uma escada para buscar água em baldes ou panelas. “O quilombo está a uma altitude de aproximadamente 40 metros na época de seca. Era uma dificuldade subir aquela escada para levar água para casa. A luta era pesada”, conta Almeida.

A opinião é compartilhada por Francione Lima, outra moradora do Tambor. “Antes era muito dificultoso para a gente”, explica, destacando que as subidas e descidas com peso aconteciam várias vezes ao dia. “Lavar roupa, lavar louça… tudo era na beira do rio.”

Atenção e cuidado

Valcléia Lima, superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da FAS, ressalta que esse trabalho, geralmente, era de responsabilidade dos idosos, das mulheres e das crianças. “Imagine um idoso ter que descer escada e subir com uma lata ou um balde na cabeça ou uma mulher fazer isso todos os dias. Como é que fica a coluna dessa pessoa? E também pode desenvolver uma lesão por esforço repetitivo, por exemplo”, avalia.

Além disso, Almeida diz que, na época das chuvas, o acúmulo de sedimentos no rio afetava a qualidade da água do rio. “Provocava febre, diarreia, essas coisas. Não era algo que acontecia diariamente, mas acontecia. Agora há água de qualidade, para todos os usos.”

Segundo Valcléia, “quando se fala da ausência de água e de saneamento na Amazônia profunda, estamos falando de vários aspectos, entre eles, a saúde”. “A maioria das doenças nas comunidades tem como principal vetor a água. Se a água não for saudável e potável, haverá problemas.”

O sistema já faz a purificação da água para consumo – Foto: Comunicação FAS / Divulgação

 

Energia solar

O uso de energia solar, além de ser uma fonte limpa e renovável, garante um fornecimento sem riscos de interrupção. “Estamos falando de uma comunidade que está em um território distante, aonde ainda não chegou o programa Luz para Todos e nem sabemos se chegará. Então, se amanhã a comunidade ficar isolada, sem acesso a diesel para o gerador, não vai faltar água, porque eles têm um sistema funcionando com energia alternativa e renovável.”

A energia solar é usada para o funcionamento da bomba que retira a água do poço e leva para o reservatório, de onde é distribuída para as casas dos moradores da comunidade.

Essa é a primeira vez que a FAS leva o projeto para uma comunidade quilombola. “Nós historicamente trabalhamos com populações tradicionais, principalmente ribeirinhas. E o segmento das populações quilombolas é uma estratégia que a gente começou a trabalhar recentemente. O Amazonas é um estado genuinamente indígena, então a gente tem apenas quatro quilombos reconhecidos”, explica Valcléia.

A superintendente ressalta que o Água+Acesso não é um programa assistencialista. “Há uma formação local das pessoas, para saber como funciona, como liga e desliga o sistema. Se der problema em uma placa solar, como resolver. Todo o cuidado de limpeza das placas para que sejam mais eficientes. E também a gestão do sistema é feita pela própria comunidade. Então, nesse contexto, criamos, em conjunto, um regimento interno de uso do poço.”

A melhora na qualidade de vida das pessoas foi rapidamente percebida. “Eu nasci e me criei aqui nesse rio. Estou ficando velha aqui. Do que eu vivi para agora, está melhor”, reforça a quilombola Maria Raimunda.

Pelo projeto Água+Acesso, a FAS recebeu recentemente o troféu Unidos pelo País que Queremos, uma iniciativa da Coca-Cola Brasil que celebra projetos de destaque na promoção de soluções concretas para os principais desafios socioambientais do país.

“Fiquei muito orgulhosa porque é um esforço da FAS, como organização, de cumprir o seu papel. Nós estamos aqui para cuidar de quem cuida da floresta. Então nós entendemos melhor do que ninguém as necessidades das comunidades. E, por mais que a gente queira que as comunidades tenham sua autonomia ou que elas sejam emancipadas, ainda precisa melhorar muito a sua infraestrutura. Assim como não há água em muitas comunidades da Amazônia, são quase um milhão de pessoas que não têm energia”, avalia Valcléia.

Navio Banzeiro da Esperança na COP30

Para a COP 30, a FAS terá um navio, chamado Banzeiro da Esperança, que sairá de Manaus rumo a Belém, local de realização da conferência sobre mudanças climáticas da ONU. A embarcação fará paradas estratégicas no caminho, em cidades como Parintins (AM) e Santarém (PA), ao longo do rio Amazonas.

“O navio terá um auditório e também servirá de hospedagem para os passageiros durante a COP”, explica Valcléia. “É um espaço que não é só para falar do tema do clima, mas também para exaltar a cultura, a tradição da Amazônia.”

A comunidade quilombola fica acima do Parque Nacional do Jaú, no município de Novo Airão (AM) – Foto: Comunicação FAS / Divulgação

A maioria dos passageiros, cerca de 300, será formada por populações tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos. “Estamos oferecendo para as lideranças dessas comunidades uma formação online sobre as questões climáticas. A gente fala de resiliência e de racismo ambiental, entre outros temas. Em uma COP na Amazônia, esperamos que as pessoas estejam mais atentas e ouçam aqueles que são impactados diretamente pelas mudanças climáticas, que são as populações tradicionais”, finaliza Valcléia.

*Com informações de Uol