Apesar do avanço em fontes de energia renovável, Brasil ainda tem dificuldade para receber recursos de fundos climáticos. FOTO: Banco de Imagens

Uma indústria sustentável, inovadora e com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo marcará presença na 26ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP-26), de 31 de outubro a 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia.

Em busca de investidores, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrará no estande do Brasil ações concretas em prol do meio ambiente desenvolvidas dentro do país. O estúdio da CNI, na sede da instituição em Brasília (DF), transmitirá em tempo real a participação no evento de empresas que são cases de sucesso.

Mesmo com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e possuir a maior floresta tropical do planeta, o Brasil ainda tem uma participação tímida na obtenção de recursos no mercado internacional. Segundo dados da CNI, enquanto a Ásia recebeu 38% dos recursos de fundos climáticos, foram destinados à América Latina e ao Caribe apenas 4,5% do total.

— O Brasil sempre foi protagonista na agenda ambiental e continua tendo enorme potencial para atuar firmemente nesse campo. O patrimônio natural e os feitos brasileiros não são nada triviais. Temos cerca de 60% do território nacional coberto por vegetação nativa e a maior disponibilidade hídrica do mundo — 12% das reservas do planeta. Nossa matriz de energia elétrica conta com 85% de fontes renováveis, e somos o segundo maior produtor de biocombustíveis — destaca o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

Andrade afirma, no entanto, que é imprescindível que o país consolide uma economia de baixo carbono. Para isso, a CNI construiu uma estratégia baseada em transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação das florestas.

— É necessário definir uma estratégia nacional para enfrentar inteligentemente os desafios provocados pela mudança do clima — observa o executivo.

PROPOSTAS

A indústria brasileira entregou ao Congresso Nacional propostas para o mercado regulado de carbono no país elaboradas a partir da análise de experiências internacionais. O setor defende um período inicial, de aprendizado, em que haja o reinvestimento de recursos financeiros advindos da comercialização de permissões para emitir gases de efeito estufa em tecnologias de baixo carbono.

Os industriários também propõem a regulamentação do uso de offsets (geração de créditos para compensação) a serem utilizados em créditos de reflorestamento, investimento em energias renováveis e projetos de gestão de resíduos, entre outros.

A proposta inclui ainda a implementação de um sistema robusto de mensuração, relato e verificação (MRV) de emissões e remoções de gases de efeito estufa e a criação de um órgão colegiado que conte com a participação do governo e do setor privado e de comitês técnicos especializados.

Para o diretor executivo e embaixador da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), José Carlos da Fonseca Junior, a chegada da COP-26 é a oportunidade para se discutir os próximos passos para uma economia de baixo carbono.

— Trata-se de um momento decisivo, pois o planeta está chegando a um ponto de inflexão. Nesse cenário, o Brasil é uma grande potência agroambiental, detentora da maior biodiversidade do mundo, de ativos florestais e hídricos de vitalidade incomparável — destaca Fonseca Junior.

AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL

A vitrine da indústria brasileira exibe, entre diversas iniciativas bem-sucedidas, o Instituto Amazônia+21, recentemente inaugurado para atrair investimentos privados para projetos inovadores e sustentáveis na região da Amazônia Legal. A iniciativa empresarial tem o objetivo de promover negócios sustentáveis na Amazônia com abordagem ESG, sigla em inglês para ambiental, social e governança.

O Instituto Amazônia+21 apoiará empreendimentos novos e já instalados na região, além de conectá-los com fundos de investimentos e grandes empresas interessadas em financiar ou participar de negócios sustentáveis. A abordagem ESG permite identificar mais facilmente a aplicação de princípios de sustentabilidade no cotidiano das empresas e em suas cadeias produtivas, a partir de cuidados com o meio ambiente, responsabilidade social e boas práticas de governança corporativa.

O movimento por uma economia global de baixo carbono é irreversível, e nenhum outro país tem o diferencial comparativo que o Brasil tem, que é a Amazônia. O bioma amazônico expressa a nossa vocação natural para a economia verde e, estruturando o desenvolvimento sustentável local, podemos fazer a diferença na contribuição do Brasil para a sustentabilidade da economia global. É isso que vai atrair negócios e investimentos para a Amazônia. Mas precisamos aprender a realizar as oportunidades guardadas na biodiversidade — afirma Marcelo Thomé, diretor executivo do Instituto Amazônia+21.

Propostas da indústria para a criação de um mercado voluntário de carbono que permita um ambiente de segurança jurídica:

  • Reinvestimento de recursos da comercialização de permissões para emissões de gases de efeito estufa em tecnologias de baixo carbono
  • Regulamentação do uso de offsets (geração de créditos para compensação) para ações como reflorestamento e gestão de resíduos
  • Implementação de um sistema de mensuração, relato e verificação (MRV) de emissões e remoções
    de gases de efeito estufa
  • Criação de um órgão colegiado que conte com a participação do governo e do setor privado e de comitês técnicos especializados

CNI mostra em Glasgow estratégia para economia de baixo carbono

Matriz energética limpa, enorme biodiversidade e reservas de água doce são algumas das características que certificam o Brasil a ocupar posição de vanguarda na agenda de sustentabilidade mundial. A presença na COP-26 será uma boa oportunidade para a indústria brasileira mostrar a estratégia de transição para uma economia de baixo carbono da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e, quem sabe, ampliar os investimentos climáticos no país.

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reforça a urgência da implantação de medidas para evitar que a temperatura do planeta ultrapasse 1,5°, e o setor industrial brasileiro participa ativamente desse processo com propostas para as negociações internacionais relacionadas ao clima e à sustentabilidade.

— Há décadas, a sustentabilidade está na estratégia da indústria brasileira, que não só usa a matriz energética a seu favor, mas está constantemente se atualizando para aumentar sua eficiência — observa Mônica Messenberg, diretora de Relações Institucionais da CNI.

O projeto nacional da CNI para a consolidação da economia de baixo carbono é baseado em quatro pilares. O eixo transição energética defende a expansão do uso de fontes renováveis, o reconhecimento da importância dos biocombustíveis, o estímulo ao consumo racional de energia e ações de eficiência energética. Para o mercado de carbono propõe a adoção de um mercado baseado no sistema cap and trade, em que empresas com volume de emissões inferior ao autorizado podem vender o excedente para as que lançam uma quantidade maior de gases de efeito estufa na atmosfera, o que estimulará investimentos em tecnologias limpas.

No pilar economia circular, é prioridade a gestão estratégica dos recursos naturais, ampliando práticas como ecodesign, manutenção, reúso, remanufatura e reciclagem, ao longo de toda a cadeia de valor.

Talvez seja difícil para um leigo associar conservação ambiental e crescimento industrial, mas o eixo conservação florestal consiste justamente na defesa da ampliação das áreas sob concessão florestal no país, fortalecimento do manejo florestal sustentável e o estímulo aos negócios voltados à bioeconomia. Trata-se de ações mais efetivas de combate ao desmatamento ilegal e às queimadas, sobretudo na Amazônia, onde é fundamental reduzir os riscos associados às secas nas áreas de produção agropecuária e à perda da biodiversidade.

CAP AND TRADE

A CNI apoia o lançamento de um mercado regulado de carbono no Brasil, por meio da criação de um sistema de comércio de emissões no modelo cap and trade. Pelo processo, empresas com volume de emissões inferior ao autorizado podem vender o excedente para as que lançam uma quantidade maior de gases de efeito estufa na atmosfera. As autorizações são distribuídas gratuitamente ou via leilões e podem ser comercializadas entre empresas.

Por meio do instrumento, o setor industrial defende a criação de um sistema de governança liderado pelo Poder Executivo e a organização de um sistema de compensação com metodologia consistente e transparente para mensuração, relato e verificação (MRV) das emissões.

Gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo argumenta que a tributação não funciona para as empresas, por isso um mercado regulado pode ser mais interessante, por trazer mais flexibilidade e ajudar o industrial a tomar decisões, inclusive de comprar ou vender créditos.

Caminhos para chegar ao baixo carbono:

CONSERVAÇÃO FLORESTAL

  • Ampliação das áreas sob concessão florestal no país
  • Fortalecimento do manejo florestal sustentável
  • Estímulo aos negócios voltados à bioeconomia
  • Ação mais efetiva de combate ao desmatamento ilegal e às queimadas, sobretudo na Amazônia

ECONOMIA CIRCULAR

  • Gestão estratégica dos recursos naturais
  • Ampliação de práticas de economia circular como ecodesign, manutenção, reúso, remanufatura e reciclagem, ao longo de toda a cadeia de valor

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

  • Expansão do uso de fontes renováveis
  • Fortalecimento do programa nacional de biocombustíveis
  • Estímulo ao consumo racional de energia
  • Apoio a ações de eficiência energética

MERCADO DE CARBONO

  • Adoção de um mercado baseado no sistema cap and trade – empresas com volume de emissões inferior ao autorizado podem vender o excedente para as que lançam uma quantidade maior de gases de efeito estufa na atmosfera

(CNI)