
O presidente Lula afirmou hoje, em discurso durante evento de agência da ONU contra a fome, na Itália, que os pobres devem ser colocados no orçamento pelos países e declarou:
“A fome é irmã da guerra, seja ela travada com armas e bombas ou com tarifas e subsídios.”
Presidente cobrou que os países invistam recursos para combater a fome e disse que esse é um problema “político”. “A fome não é simplesmente um problema econômico. É, sobretudo, um problema político. Uma questão de opção, de saber para onde vai o dinheiro que o Estado arrecada”, disse.
Lula afirmou que combate a fome deve ser “luta perene” para evitar retrocessos. “É preciso colocar os pobres no orçamento e transformar esse objetivo em política de Estado, para evitar que avanços fiquem à mercê de crises ou marés políticas”.
Conflitos armados, além do sofrimento humano e da distribuição da infraestrutura, desorganizam cadeia de insumos e alimentos. Barreiras e políticas protecionistas de países ricos desestruturam a produção agrícola no mundo em desenvolvimento.
Da tragédia em Gaza à paralisia da Organização Mundial do Comércio, a fome tornou-se sintonia do abandono das regras e das instituições multilaterais.
Presidente Lula, em evento na Itália
Declarações ocorreram durante o Fórum Mundial da Alimentação 2025, em Roma. Lula e a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, chegaram ontem à Itália para participar do evento. Este é o principal evento anual da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). O fórum ocorre durante as comemorações pelos 80 anos de criação do órgão internacional.
Principal dia do evento será quinta-feira, mas Lula não participará. Nesta data, comemora-se o Dia Mundial da Alimentação e a FAO completará os 80 anos de existência.
O que mais Lula disse
“A fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania. É possível superá-la por meio de ação governamental, mas governos só podem agir se dispuserem de meios.”

“Por isso, ampliar o financiamento ao desenvolvimento, reduzir os custos de empréstimos, aperfeiçoar sistemas tributários e aliviar a dívida dos países mais pobres são medidas cruciais. Não basta produzir, é preciso distribuir.” afirmou o presidente Lula.
Aliança Global contra a Fome
Presidente fez dois apelos. O primeiro, dirigido a bancos multilaterais e países doadores, para que revisem suas prioridades e invistam mais no combate à fome; o segundo, aos governos nacionais, a quem pediu que “coloquem os pobres no orçamento”. Segundo o presidente, a inclusão social precisa estar refletida nas políticas fiscais, nos investimentos públicos e nos planos produtivos.
Lula disse que “não há melhor estímulo para a economia mundial do que investir em desenvolvimento humano e social”. A fala ocorreu durante o encerramento da 2ª Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
“A persistência da fome e da pobreza são as provas mais dolorosas de que falhamos como comunidade global”, disse Lula. O presidente destacou que a Aliança Global nasceu para reunir políticas públicas que deram certo e garantir que cada país lidere a implementação dos programas em seu próprio território. Em um ano de funcionamento, a Aliança reúne 200 membros, sendo 103 países, 53 organizações não governamentais e fundações, 30 organismos internacionais e 14 instituições financeiras. A Espanha divide com o Brasil a liderança da iniciativa.
Durante o encontro, Lula anunciou a criação do Mecanismo de Apoio da Aliança, que terá sede, secretariado e direção próprios. O fundo inicial será financiado por Noruega, Portugal, Espanha e Brasil, com previsão de recursos assegurados até 2030. A FAO será o braço técnico da estrutura.
Lula antecipou que, na COP30, o Brasil defenderá a adoção de uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima. O objetivo é propor que a segurança alimentar esteja no centro da ação climática. “Somente um novo modelo de desenvolvimento justo e sustentável poderá assegurar um futuro para as próximas gerações”, afirmou.
Fome cai no Brasil, mas insegurança alimentar persiste no Norte e Nordeste
Participação de Lula na FAO ocorre em momento simbólico para o Brasil, que saiu do Mapa da Fome. Segundo o relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo”, divulgado em julho, menos de 2,5% da população brasileira está em risco de subnutrição ou de falta de acesso à alimentação suficiente.
O Brasil comemorou no ano passado a redução da fome a patamares de 2013. Houve queda em todas as regiões.

Contudo, a desigualdade regional persiste: Norte e Nordeste seguem com as taxas mais altas, com mais de uma em cada três famílias sob insegurança alimentar.
Média de lares em insegurança alimentar:
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Brasil – 24,2%
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Norte – 37,6%
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Nordeste – 34,8%
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Sudeste 19,7%
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Sul – 13,6%
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Centro-Oeste 20,5%