
O presidente do PT, Edinho Silva, disse que “não dá para levar a sério” a pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência no ano que vem e que o adversário do presidente Lula (PT) “interessa muito pouco”.
Edinho atribuiu a desconfiança da candidatura à postura do próprio Flávio. “Ninguém se lança candidato um dia e, no outro, dia abre para negociação. Eu nunca vi isso na minha vida. Eu tenho 40 anos de militância política e eu nunca vi isso na minha vida. ‘Olha, eu sou candidato’, mas, no outro dia, vem aqui que a gente pode negociar? Não dá para para levar a sério”, questionou, em café da manhã com jornalistas, na sede do PT, em Brasília.
Escolhido pelo pai, Jair Bolsonaro (PL), Flávio foi e voltou sobre a candidatura. Um dia depois do anúncio, no domingo (7), admitiu que pode desistir da disputa, e que isso teria um “preço”. Após repercussão negativa, afirmou hoje que a indicação é “irreversível”.
Governistas têm tratado a indicação como balão de ensaio. Mais cautelosos, apoiadores de Lula dizem que a indicação de Flávio pode ser um teste e que, caso seja rejeitado publicamente, possa dar ainda mais força para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que viria como um “antídoto” para tentar reunir a direita.
“Eu não me preocupo com quem será o adversário desse campo”, afirmou Edinho, defendendo as conquistas da gestão. “É um governo que tem entregas. Eu acredito muito que esse governo vai chegar em 26 em condições muito favoráveis de reeleição para que a gente dê continuidade a essa agenda toda. Então, o adversário interessa muito pouco.”
Apesar disso, Tarcísio alarma mais o Planalto. Além de estar diretamente vinculado à gestão de Bolsonaro, o governador falaria ainda das realizações à frente do maior estado do país e é visto com um perfil muito mais técnico ou “moderado”, o que agrada este eleitorado.
Flávio é visto por governistas como um nome mais regionalizado e segmentado. Aliados de Lula apontam que, diferentemente de outras figuras da direita com maior abrangência nacional, o senador tem força mais restrita ao Sudeste e entre bolsonaristas, que já votariam em qualquer candidato que o ex-presidente indicasse.
O governador teria ainda mais chance de reunir partidos de centro. Atual secretário de Governo e Relações Institucionais de São Paulo, Gilberto Kassab, presidente do PSD, já afirmou que apoia o chefe. O partido é uma das maiores forças do Congresso e tem três ministros no governo Lula.

Segundo Edinho, Tarcísio tem articulado para ser “o organizador da ultradireita”. “É ele quem mobiliza os governadores praticar caracterizar a PEC [Proposta de Emenda à Constituição] Antifacção, porque é o secretário de segurança pública dele [deputado Guilherme Derrite, PP-SP] que vem seu relator”, ponderou.
O petista pondera, no entanto, que “ainda é cedo”. “Muita coisa vai acontecer até abril, maio do ano que vem”, afirmou, ao se referir à data de descompatilibização, quando alguém que ocupa um cargo público tem de deixá-lo para concorrer a outro. Neste caso, tanto Flávio quanto Tarcísio teriam de deixar seus cargos até 31 de março.
“Ele [Tarcísio] veio pra cá [Brasília], tentou mobilizar a [PEC da] Anistia, foi [negociar] a PEC a Antifacção. Ele foi para dentro da negociação do Congresso, na PEC agora da Segurança Pública. Ele liderou os governadores pra irem lá junto ao [governador do Rio de Janeiro] Cláudio Castro [PL] bater palma em cima do 121 cadáveres. Então, ele tenta ser o líder dessa coisa de ultradireita no Brasil, é o lugar que ele escolheu.” disse Edinho Silva, sobre Tarcísio de Freitas.
“Alckmin será o que ele quiser”
Edinho disse ainda que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) escolherá para que cargo concorrerá em 2026. Ele é cotado tanto para seguir na chapa principal quanto para voltar ao estado de São Paulo, seja como governador —cargo que já ocupou quatro vezes— ou como senador.
“O vice-presidente é uma liderança nacional de primeira grandeza”, defendeu Edinho. “Cumpriu um papel brilhante nesse projeto de desenvolvimento e reindustrialização do Brasil, cumpriu um papel fundamental no enfrentamento ao tarifácio, com a capacidade de diálogo dele, com a capacidade de articulação.”
Ele garantiu, ainda, que a aliança não escolheu quem concorrerá ao governo paulista. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), é o favorito, apesar de ser preponderante a possibilidade de Tarcísio concorrer ou não à reeleição —mesmo que o petista garanta que não faz diferença.
Foco nas articulações estaduais para 2026
O petista defende ainda que o PT foque nas coligações estaduais. Além de tentar reeditar uma frente ampla em torno de Lula, o partido deve se fortalecer nos estados com alianças fortes, lançando nomes apenas onde avaliar que tem chance e deixando as outras vagas aos aliados.
“Nós temos que priorizar as alianças nos estados”, afirmou Edinho. “Eu penso que a vitória do presidente Lula será construída na montagem dos palanques nos Estados. O Brasil é um país, com algumas exceções, em que os partidos são regionalizados. O MDB de São Paulo é diferente do MDB do Pará, que é diferente do MDB de Alagoas, que é diferente do MDB de Minas. E a mesma coisa o PSD: o PSD do Mato Grosso é diferente do PSD do Espírito Santo, que é diferente do PSD Santa Catarina, que é diferente do PSD da Bahia.”
O governo já espera apoio no mínimo parcial nos dois casos citados. Com três ministérios cada, é esperado que os MDBs de Alagoas, Amazonas e Pará já estejam com Lula desde o primeiro turno, assim como os PSDs da Bahia, do Amazonas e do Rio de Janeiro. Em São Paulo e no Sul, por exemplo, ambos são oposição a Lula.













