O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, durante a audiência de custódia de sua prisão, realizada no domingo (23/11), que tentou abrir sua tornozeleira eletrônica após sofrer um episódio de “paranoia” e “alucinação” em decorrência do uso combinado de medicamentos.
Ele relatou que fazia uso de pregabalina, remédio indicado principalmente para o tratamento de dores crônicas ligadas aos nervos — como aquelas causadas por diabetes, herpes-zóster ou lesões nervosas que provocam queimação, formigamento ou choques — e de sertralina, um antidepressivo amplamente prescrito para quadros como depressão e transtorno ansiedade.
A ata da audiência registra que Bolsonaro declarou ter agido “movido por temor e sensação de perseguição, decorrentes do uso concomitante de medicamentos”.
Segundo seu relato, ele passou a acreditar que a tornozeleira eletrônica poderia conter um dispositivo de escuta, o que teria motivado sua tentativa de mexer no equipamento.
Segundo a ata, ele negou ter tido qualquer intenção de fugir.
Como os medicamentos agem
A sertralina pertence a uma classe de antidepressivos chamada inibidores seletivos da recaptação de serotonina.
De forma simples, ela aumenta a disponibilidade de serotonina no cérebro, uma substância ligada à regulação do humor, do sono e da ansiedade. Na prática clínica, é utilizada para tratar não apenas a depressão, mas também diversos transtornos de ansiedade, pânico, estresse pós-traumático e fobias sociais.
Para a maioria das pessoas, é considerada segura quando há acompanhamento médico, mas pode provocar efeitos colaterais, sobretudo nas primeiras semanas ou em momentos de ajuste de dose.

Segundo o psiquiatra Luiz Sperry, a sertralina é considerada um dos medicamentos mais seguros da psiquiatria moderna: “É o nosso carro-chefe. Um remédio bastante seguro, com pouquíssimos efeitos adversos. Quando eles ocorrem, normalmente não são dessa natureza”.
Entre os efeitos relatados com mais frequência, estão alterações no sono, aumento de ansiedade inicial, tontura, náusea e sensação de agitação. Em casos menos comuns, podem surgir sintomas como confusão mental, sensação de irrealidade e alterações na percepção, especialmente quando o organismo ainda está se adaptando ao medicamento.
O psiquiatra Fábio Gomes de Matos e Souza, professor titular de Psiquiatria da Universidade Federal do Ceará aponta, no entanto, que em casos de doses muito elevadas a sertralina pode desencadear um quadro chamado síndrome serotoninérgica, condição rara que, em situações extremas, pode estar associada a alucinações.
Já a pregabalina é um medicamento usado principalmente para o controle de dores chamadas “neuropáticas”, que surgem não de inflamações musculares, mas de alterações nos próprios nervos.
Ela atua diminuindo a intensidade dos sinais de dor que chegam ao cérebro e, por isso, também pode ter efeito sobre o nível de atividade do sistema nervoso. Em alguns países, inclusive, é indicada também para certos quadros de ansiedade.
“É um remédio muito usado no controle da dor crônica. Também pode ajudar na qualidade do sono e tem uma leve ação ansiolítica”, explica Sperry.
Os efeitos colaterais mais relatados da pregabalina incluem sonolência, tontura, dificuldade de concentração e sensação de “cabeça pesada”.
Algumas pessoas descrevem uma espécie de lentificação do raciocínio, especialmente no início do tratamento ou em doses mais altas. Em situações específicas, podem ocorrer quadros de confusão ou desorientação.
Ele explicou que a medicação tem estrutura semelhante à de anticonvulsivantes, mas é considerada relativamente segura.














