Foto: Mayra Farias / Portal da Floresta

Na reta final da COP30, as negociações se intensificam, e a pressão por acordos concretos aumenta. O que se esperava, conforme adiantou a presidência da Conferência, era que dois pacotes com ‘rascunhos’ sobre o que tem sido discutido em torno de temas espinhosos e secundários para as Partes começassem a ser divulgados ainda na manhã desta terça-feira, 18. Mas, tarde da noite, dentro das salas com portas fechadas, tudo mudou e o dia começou com novo direcionamento. Agora, será entregue um único ‘Pacote Mutirão’ com 14 tópicos.

Segundo informações de articulações obtidas pelo ClimaInfo, a presidência da COP30 descartou a elaboração de uma Decisão de Capa, que é um recurso tradicional usado para sintetizar resultados gerais obtidos em cúpulas complexas. O que fará vez desse documento será o ‘Pacote Mutirão’.

O que aconteceu foi o seguinte: as delegações receberam a carta, sendo convocadas para esse mutirão diplomático, com o intuito de concluir as decisões sobre os dois pacotes de decisões previstos. Querem que as negociações avancem de forma substancial ainda nesta terça — podendo se estender até 21 de novembro, previsto como o último dia da COP30. Agora, esses dois pacotes serão entregues de forma conjunta, em um só documento.

Nesse clima de encerramento de negociações, a presidência anunciou o início do modo “Shuttle Diplomacy”, quando mediadores agem para ajudar as partes a encontrar um ponto em comum em meio a entraves nos diálogos. Esse modo de negociação está previsto para ser conduzido até a tarde desta terça.

Na décima carta da presidência da COP30, publicada por André Corrêa do Lago na segunda-feira, 17, ele convidou as partes a iniciar uma ‘força-tarefa’ para ‘implementar o Pacote Belém: com rapidez, equidade e respeito por todos.’

“Vamos acelerar o ritmo, superar as divisões e focar não no que nos separa, mas no que nos une em propósito e humanidade. Pois o mundo observa não apenas o que decidimos, mas como decidimos: se o nosso processo reflete confiança, generosidade e coragem. Mais importante ainda, o mutirão pode demonstrar a nossa capacidade de trabalhar em conjunto para responder à urgência”, escreveu no documento.

Entenda o que está incluso na ‘decisão mutirão’

Inicialmente, conforme dito em coletiva de imprensa na segunda-feira, 17, os dois blocos de decisões — que, agora, devem ser unificados na ‘decisão mutirão’– estavam divididos da seguinte forma:

Pacote 1

O pacote iria incluir os quatro temas ‘espinhosos’ da COP30 que estão fora da agenda oficial da negociação, mas que também são vistos como necessários pelas Partes.

  1. Provisão de Financiamento Norte para o Sul. Referente ao artigo 9.1 do Acordo de Paris: “Países desenvolvidos Partes devem fornecer recursos financeiros para auxiliar os países em desenvolvimento Partes, no que diz respeito tanto à mitigação quanto à adaptação na continuação das suas obrigações no âmbito da Convenção”.

  2. Medidas unilaterais de clima que impactam o comércio;

  3. Relatórios de transparência das Partes;

  4. Insuficiência das metas climáticas, as Contribuição Nacionalmente Determinada (NDCs), que somam 118 entregas até o momento.

Em coletiva de imprensa, Ana Toni, a diretora executiva da COP30, chegou a comentar que inicialmente alguns países – não citados nominalmente – pediram para que certos temas ficassem fora do que seria esse primeiro resumo.

Abertura da COP30 – Foto: Ricardo Stuckert / PR

“Mas depois dessa discussão foi pedido à presidência da COP30, o que requer muita confiança, para que o Brasil apresentasse um primeiro resumo, um primeiro rascunho das decisões sobre esses quatro temas”, complementou Ana na ocasião, sobre o que havia sido acordado.

Pacote 2

Já o segundo pacote seria a respeito de decisões que estão oficialmente na agenda de negociação– onde entram os tópicos de adaptação e transição justa, também vistos como prioritários.

A expectativa é que esse segundo documento fosse apresentado até sexta-feira, 21. André Corrêa do Lago vê a forma de mobilização geral como um sinal de extrema confiança na capacidade do Brasil de mediar temas sensíveis. “É impressionante o apoio dos negociadores hoje para que a gente pudesse avançar nesse sentido”, disse na última coletiva.

Nesse clima de reta final, tratativas seguem ativas até durante a noite. A ideia é que, no “pacote mutirão”, tudo seja apresentado e aprovado em sessão plenária até sexta-feira.

“Ao realizarmos nosso mutirão, propomos priorizar o trabalho em questões inter-relacionadas e interdependentes, além daquelas que exigem trabalho técnico e que podem ser tratadas de forma autônoma: Decisão do Mutirão, Objetivo Global de Adaptação, Programa de Trabalho para uma Transição Justa nos Emirados Árabes Unidos, Programa de Trabalho de Mitigação e Implementação de Sharm el-Sheikh, Planos Nacionais de Adaptação, Balanço Global (três itens), Artigo 9.5, Artigo 2.1.c, Assuntos relacionados ao fórum sobre o impacto da implementação de medidas, Assuntos relacionados ao Comitê Permanente de Finanças, ao Fundo Verde para o Clima e ao Fundo Global para o Meio Ambiente, Relatório do Fundo para Resposta a Perdas e Danos e orientações ao Fundo para Resposta a Perdas e Danos, Relatório e assuntos relacionados ao Fundo de Adaptação, Programa de Implementação de Tecnologias, assuntos relacionados ao Artigo 13. Se necessário, continuaremos até 21 de novembro – juntos, para que ninguém seja deixado para trás e todas as vozes sejam ouvidas. Todos os demais itens têm como objetivo serem concluídos em 21 de novembro.” — André Correa do Lago, em última carta da Presidência da COP30

Esboço de um possível acordo

A presidência brasileira da COP30 elaborou um esboço de um possível acordo. O documento, visto pela Reuters, contém uma cláusula que insta todas as partes a eliminarem gradualmente subsídios aos combustíveis fósseis.

Outra seção apresenta uma série de opções de redação, uma das quais propõe um processo para ajudar os países a superarem sua dependência de combustíveis fósseis.

*Com informações de Terra