Meses antes da COP30, a expectativa de alguns donos de motéis de Belém (PA) era reformar os locais e transformá-los em pequenos hotéis ou pousadas para receber os visitantes que chegariam na cidade para o evento. A realidade é que vários estabelecimentos não conseguiram muitos hóspedes, e alguns amargaram procura zero.
A ideia parecia simples: usar a estrutura para receber delegações dos países que participam da cúpula climática da ONU (entre 10 e 21 de novembro) ou hospedar outros visitantes que chegassem à capital paraense durante o evento. Para isso, os proprietários alteraram a decoração, trocaram as camas redondas por quadradas e investiram em pintura e outras reformas.
A mudança visou retirar os aspectos eróticos dos locais, voltados principalmente para casais, e evitar constrangimentos. Pelo plano, o valor das reformas seria recuperado durante a cúpula, e a estrutura ficaria como legado. Alguns motéis chegaram a investir R$ 100 mil.
Segundo a Associação Brasileira de Motéis (ABMotel), não existe um balanço oficial sobre o número de vagas disponibilizadas e preenchidas para a COP30, mas ao menos cinco empresários confirmaram para a reportagem da Folha que realizaram reformas para a cúpula e não conseguiram hóspedes.
É o caso do FIT Motel. O espaço não teve reservas. As obras começaram em fevereiro, segundo o dono Ricardo Teixeira, que também é diretor da ABmotel no estado do Pará.
“O valor da reforma será diluído com um tempo maior que o planejamento realizado”, diz.
“A atividade diária não está prejudicada. Movimento segue normal. Não há prejuízo. Apenas não vai ter a projeção do faturamento pensado, pois não temos a lotação diária, como havia sido planejado.”
No caso do motel Só Prazer, em Marituba, cidade da região metropolitana de Belém, das 33 vagas que foram disponibilizadas, 11 foram preenchidas. Segundo Cristiano Ribeiro, proprietário do local, os hóspedes são todos estrangeiros e estão no Brasil para participar da COP30.

“Há dois anos começamos a reformar os apartamentos, com recursos próprios. Não conseguimos todos, apenas dez ficaram sem a reforma.”
Ele acredita que o investimento poderá ser recuperado no longo prazo, já que os clientes terão agora uma estrutura melhor. Também aponta como diferencial a experiência que o estabelecimento está conseguindo ter com os estrangeiros.
“Os valores inicialmente cobrados pela hotelaria mancharam a imagem geral das hospedagens”, comenta.
Alberto Braga afirma que investiu mais de R$ 100 mil para transformar o motel Acrópole na pousada Acrópole. Ele trocou aparelhos de TV e ar-condicionado, realizou pintura, colocou camas quadradas em 80% dos quartos e fez outros acabamentos no local.
“Infelizmente, a gente não conseguiu preencher o que que esperava. De 30 apartamentos, conseguimos apenas 5. A gente investiu numa coisa e deu um tiro no pé, mas é vida que segue”, lamenta.
Segundo ele, mesmo depois da COP30 o estabelecimento seguirá como pousada. A ideia de transformação ocorreu porque, em sua avaliação, o setor de motéis “quebrou”.
“Não existe mais aquela demanda de uso dos jovens entre 18 a 30 anos. Eles não frequentam mais o motel. Os pais hoje em dia estão muito maduros, deixam os filhos namorarem em casa. Só frequenta motel quem vai com amante. Mudou a pegada. Por isso que nós viramos a chave”, diz.
“Para ser muito sincero, essa demanda da COP era muito necessária para recuperar o que a gente investiu, mas infelizmente vai ficar para longo prazo. Eu pensei que era, entre aspas, imediata [a recuperação do investimento].”
O Acrópole, que fica na Cidade Velha, em Belém, tem cobrado diárias de R$ 350 no período da COP30. Braga também diz que os preços altos espantaram os clientes dos estabelecimentos e, inclusive, desanimaram muitas pessoas que pretendiam visitar a capital paraense.














