A resistência antimicrobiana — capacidade de microrganismos resistirem ao tratamento medicamentoso, especialmente antibióticos — já é uma das principais ameaças à saúde pública global. Um estudo publicado na revista The Lancet, em 2024, aponta que as mortes diretamente associadas ao problema chegaram a 1,14 milhão em 2021. No Brasil, a estimativa é que a resistência aos antimicrobianos seja a responsável direta por 34 mil mortes anuais.
O problema ganha novo destaque com a aproximação da Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência a Antimicrobianos, que ocorre de 18 a 24 de novembro. A data busca chamar a atenção para o uso racional de medicamentos, especialmente antibióticos, além de medidas preventivas a doenças, como a vacinação. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), investimentos adequados em programas de imunização poderiam reduzir em até 22% o uso global de antibióticos.
Um exemplo emblemático é o da vacina contra o Streptococcus pneumoniae, bactéria associada a doenças como pneumonia, meningite e otite, cuja imunização poderia evitar o consumo de cerca de 33 milhões de doses de antibióticos por ano. “As vacinas são aliadas fundamentais no combate à resistência antimicrobiana, porque previnem infecções que poderiam exigir antibióticos e reduzem a disseminação de bactérias entre pessoas”, afirma o infectologista Marcelo Cordeiro, consultor médico do Sabin Diagnóstico e Saúde.
A vacina contra influenza é outro imunizante que previne infecções bacterianas secundárias, decorrente da baixa imunidade que a gripe acarreta e que exigem tratamento com antibióticos. Embora a gripe seja causada por vírus, para os quais antibióticos não são eficazes, um estudo publicado na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos aponta que a imunização reduz episódios gripais, o que diminui o número de pacientes com sintomas respiratórios e, consequentemente, diminui prescrições inadequadas de antibióticos.
Uso incorreto de antibióticos
O problema da resistência antimicrobiana frequentemente surge de hábitos cotidianos que parecem inofensivos. O uso inadequado de antibióticos, seja por automedicação, interrupção precoce do tratamento, dosagem incorreta ou prescrição para infecções que não exigem o medicamento, como gripes e resfriados, cria um ambiente propício para a seleção e multiplicação de bactérias resistentes.
Segundo o infectologista, quando o medicamento é utilizado de forma incompleta ou desnecessária, apenas as bactérias sensíveis morrem, enquanto as resistentes sobrevivem e se multiplicam, tornando as infecções futuras mais difíceis de tratar. Ele lembra que a disseminação de cepas resistentes coloca em risco todo o sistema de saúde, inclusive em procedimentos como cirurgias ou quimioterapias, que dependem de antibióticos eficazes para combater infecções relacionadas à assistência à saúde.
Prevenção e conscientização
Campanhas como a Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência a Antimicrobianos são, segundo o médico, oportunidades estratégicas para reforçar informações claras e essenciais à população. Ele enfatiza que a prevenção continua sendo a medida mais eficaz, especialmente para grupos vulneráveis, como crianças e idosos.
“Manter o calendário de vacinação em dia — com vacinas contra influenza, pneumococo, coqueluche e meningite — tem impacto direto na redução de internações e do uso hospitalar de antimicrobianos”, explica. Além disso, atitudes simples como lavar as mãos com frequência, ter uma dieta equilibrada, praticar atividade física e evitar a automedicação contribuem diretamente para conter o avanço da resistência bacteriana.
Durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, o Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de...