A capoeira que vai ocupar o Shopping Manaus ViaNorte neste sábado (15) e domingo (16), no ‘Festival de Capoeira Raízes Livres’, é a mesma que transformou duas vidas profundamente diferentes, mas marcadas pela superação. Entre o som do berimbau e o movimento do corpo, a arte-luta se revela, para eles, como ferramenta de acolhimento, identidade e resistência.
A história de Marcley Medeiros, de 33 anos, conhecido no batismo de capoeira como Macho Babuíno, rompe qualquer expectativa. Pessoa com Deficiência Física (PcD) e sem movimentos nas pernas, ele se tornou – ao que tudo indica – o primeiro mestre PCD formado no Amazonas. O caminho até ali começou com uma frase que recebeu do próprio mentor, o Mestre Espiga, que enxergou potencial onde muitos só veriam limites.
“Ele me disse que meus braços teriam função de braço e perna ao mesmo tempo. Que eles iriam responder por mim”, relembra. Com o apoio do Mestre Espiga, Marcley adaptou golpes, estudou movimentos e criou suas próprias estratégias dentro do jogo. “Eu via os vídeos das pessoas dando martelo, chapa, tesoura e pensava: ‘Como faço isso no meu corpo?’ Deus me deu essa criatividade, e o mestre me guiou”, contou.
A superação não ficou restrita à roda de capoeira. Marcley também encontrou força em outras modalidades. Ele também é faixa marrom no jiu-jítsu e tricampeão estadual de boxe. E cada conquista reafirma que o corpo, mesmo com suas limitações, responde – e ensina. “O boxe me ensinou disciplina, respeito e como lidar com as pessoas. Isso eu vou levar pela vida inteira”, disse.
Capoeira e fé
Enquanto Marcley transformava os próprios limites em possibilidades, Jean da Encarnação Conegundes, o Predador, de 31 anos, enfrentava outra batalha. Ele conheceu a capoeira aos 12 anos, quando já estava envolvido com drogas e situações de vulnerabilidade no bairro Terra Nova, na Zona Norte de Manaus. O projeto coordenado pelo Mestre Charuto foi o primeiro lugar onde encontrou acolhimento.
“Andando ali eu vi um projeto maravilhoso do Mestre Charuto que na época ele era graduado. E ali eu pedi uma oportunidade, se eu podia treinar e eles abriram a porta pra mim e comecei a participar. A capoeira mudou minha maneira de pensar. Era onde eu fugia da destruição que eu vivia na rua”, lembra Jean, que travou uma batalha por anos para finalmente se ver livre das drogas.
Mas a transformação de Jean também passou pela fé. Ele encontrou apoio em uma igreja e, junto com a capoeira, começou um caminho de restauração. “O pastor pregou uma palavra que ficou no meu coração. Eu agarrei aquilo. A capoeira, os professores, minha família, minha esposa — todos acreditaram por mim até eu mesmo acreditar”, relatou.
Hoje, Jean é professor de capoeira e pastor. Criou o projeto Predador Teen, voltado a crianças e adolescentes que vivem os mesmos riscos que ele enfrentou no passado. “Sou fruto da capoeira e dessa rede que não desistiu de mim. Agora trabalho para transformar outras vidas”, destacou.
Ritmo, ginga e ancestralidade
O festival, coordenado pelo capoeirista Robson Duarte dos Santos, o Mestre Charuto, promete envolver o público em uma celebração de ritmo, ginga e ancestralidade. “Esse é um resumo das histórias que temos como mais inspiradoras dentro da nossa academia. Mas são várias histórias de vitórias e derrotas que passamos na vida e no esporte”, afirma.
Segundo a coordenadora de Marketing do Shopping Manaus ViaNorte, Karoline Cordeiro, o festival é um convite para o público vivenciar a força e a beleza da cultura afro-brasileira por meio da capoeira. “O Festival de Capoeira Raízes Livres representa o quanto a cultura pode aproximar pessoas e transformar espaços. A capoeira é um patrimônio do nosso país, e queremos que o público viva essa energia, reconhecendo nela uma expressão de força, disciplina e identidade brasileira”, destacou.
As histórias de Marcley e Jean, tão diferentes, se cruzam no mesmo ponto: a capoeira como uma rede que acolhe, disciplina, fortalece e devolve sentido a quem chega. Essas duas histórias representam o espírito do festival, que reunirá rodas, apresentações, batizados e grupos de toda a cidade no Shopping Manaus ViaNorte.
O evento acontece neste sábado e domingo, das 16h às 20h, é gratuito e aberto ao público, e conta com supervisão do Mestre Espiga e apoio de patrocinadores como Inovapet, Clínica Rubrum, FM&V Advocacia e CT Capoeira.
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