Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de comemoração pelo Dia dos Professores e de anúncios relativos ao Programa Mais Professores para o Brasil. Arena Carioca 2, Parque Olímpico – Rio de Janeiro (RJ) Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Lula (PT) defendeu hoje, durante discurso na abertura da cúpula de chefes de Estado que precede a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em Belém, a construção de um plano global para acabar com o uso de combustíveis fósseis. Mas Lula tem defendido a exploração de petróleo na Margem Equatorial (costa do Amapá), aprovada por seu governo no mês passado.

Em frente aos líderes globais, na cúpula, Lula disse que acelerar a transição energética e proteger a natureza são as duas maneiras mais efetivas de conter o aquecimento do planeta. “Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos.”

O presidente brasileiro criticou ainda os “interesses egoístas imediatos” que prevalecem sobre o bem comum de longo prazo. “É o momento de levar a sério os alertas da ciência. É hora de encarar a realidade e decidir se teremos ou não a coragem e a determinação necessárias para transformá-la.”

No entanto, em ocasiões passadas, Lula já disse que, enquanto o mundo precisar do petróleo, o país não deve abrir mão de recursos que podem melhorar a vida do brasileiro. Esse dinheiro também deve ser utilizado para acelerar a própria transição energética do Brasil, afirmou.

Anteontem, em entrevista a jornalistas estrangeiros, o presidente ressaltou que, por ora, só existe uma autorização para a Petrobras fazer testes na costa do Amapá. Comentou também que, se fosse “hipócrita”, seu governo teria esperado o fim da COP para anunciar a autorização para essas pesquisas.

O presidente criticou ainda a “desconexão entre salões diplomáticos e o mundo real”. “As pessoas podem não entender o que são emissões ou toneladas métricas de carbono, mas sentem a poluição”, disse.

Cobrança a países ricos

Lula usou no discurso o termo “COP da verdade”, seu jargão para este evento. O argumento do presidente é que, como países desenvolvidos são mais poluentes e se beneficiaram disso para se desenvolver, têm uma espécie de “dívida” com os países em desenvolvimento, que ele chama de Sul Global.

“A mudança do clima é resultado das mesmas dinâmicas que, ao longo de séculos, fraturaram nossas sociedades entre ricos e pobres e cindiram o mundo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Será impossível contê-la sem superar as desigualdades dentro das nações e entre elas.” afirmou Lula, na abertura da cúpula de líderes.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, participa de plenária no segundo dia da Pré-COP30, em Brasília – Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Como tem feito, defendeu o desenvolvimento sustentável na Amazônia, no que chamou de “falso dilema entre a prosperidade e a preservação”. “É justo que seja a vez dos amazônidas de indagar o que está sendo feito pelo resto do mundo com a sua casa”, disse o presidente.

O principal mote do governo brasileiro na COP será o chamado TFFF (Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, na sigla em inglês). A iniciativa recebe contribuições de governos e investidores privados para preservação das florestas tropicais, localizadas em especial no Brasil, no Congo e Indonésia. Diferente de outros mecanismos baseados em doações, o TFFF funciona como um investimento: os lucros retornam aos investidores, e o excedente é destinado aos países que preservam suas áreas.

“A justiça climática é aliada do combate à fome e à pobreza, da luta contra o racismo, da igualdade de gênero e da promoção de uma governança global mais representativa e inclusiva.” afirmou Lula, na abertura da cúpula.

Presenças internacionais

A maioria das lideranças internacionais veio da África e da Europa. O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, falou antes de Lula. Também vieram o chanceler (premiê) alemão, Friedrich Merz, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen.

Lula terá encontros bilaterais com Macron e Starmer hoje. Ontem, ele já se reuniu com Von der Leyen e com o vice-primeiro-ministro chinês Ding Xuexiang, que representa Xi Jinping no evento. O príncipe William, do Reino Unido, participará do encontro com Starmer.

Humanidade vive momento ‘crucial’ para o planeta, diz príncipe William em Belém. A cúpula climática COP30 em Belém, no Pará, representa um momento crucial para o planeta, que exige “coragem” e comprometimento de todas as nações, disse o príncipe William da Inglaterra em seu discurso. “Estamos reunidos aqui hoje, no coração da Amazônia, em um momento crucial da história da humanidade. Um momento que exige coragem, cooperação e um compromisso inabalável com o futuro do nosso planeta”, declarou o herdeiro do trono britânico.

Fala com presença dos três Poderes. Os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin, vieram a Belém para o discurso de Lula. Grande parte dos ministros, como Marina Silva (Meio Ambiente), Mauro Vieira (Itamaraty) e Fernando Haddad (Fazenda), também participam, assim como a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), atual presidente do Banco dos Brics.

Esta COP tem seu simbolismo. O evento acontece num momento decisivo: 2025 é o prazo final para que os países apresentem suas novas metas de redução de emissões (as chamadas NDCs) e o ponto de checagem das promessas financeiras feitas pelos países ricos para apoiar as nações mais vulneráveis à crise climática.

Com o evento, o Brasil volta ao centro dos debates climáticos. Será a primeira conferência ambiental global no país desde a Rio-92, evento que deu origem à Convenção do Clima da ONU, e a primeira sediada na Amazônia.

Príncipe William posa ao lado do prefeito do RJ, Eduardo Paes – Foto: Reprodução / Instagram / @princeandprincessofwales

Fundo para florestas, a aposta do governo

Administrado pelo Banco Mundial, o fundo pretende gerar US$ 4 bilhões anuais para conservação. Especialistas veem potencial inédito, mas alertam para riscos de volatilidade financeira, adesão limitada e necessidade de forte governança e transparência na aplicação dos recursos.

Inicialmente, serão pagos cerca de US$ 4 ao ano para cada hectare de floresta nativa em pé. Com resultados acompanhados via satélite, haverá desconto nos pagamentos em casos de desmatamento.

Há o desafio de achar e manter financiadores. O Reino Unido, por exemplo, era um dos países que o Brasil esperava que contribuíssem, mas já declarou que “no momento” não poderá ajudar.

O fundo poderá beneficiar mais de 70 nações tropicais. Os investimentos do fundo serão de risco elevado e administrados por gestores do mundo todo.

Guterres diz que mundo falhou em conter aquecimento a 1,5°C. Antes do discurso de Lula, quem falou foi o secretário-geral da ONU, António Guterres. Ele reconheceu que o mundo “falhou” em limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, meta central do Acordo de Paris. Segundo ele, décadas de atraso e negacionismo resultaram em uma “falha moral e de negligência fatal”. Guterres destacou, contudo, que ainda é possível reduzir os impactos da crise climática se os países acelerarem medidas como a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e o fortalecimento das metas de redução de emissões.

*Com informações de Uol