Bolsonaro observa no STF o primeiro dia do julgamento da aceitação da denúncia por tentativa de golpe - Foto: Antonio Augusto / STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria nesta quinta-feira, 11, para condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete aliados por organização criminosa armada. A decisão foi consolidada com o voto da ministra Cármen Lúcia, que se alinhou aos votos dos ministros Alexandre de Moraes, relator do caso, e Flávio Dino. Até o momento, apenas o ministro Luiz Fux votou pela absolvição do ex-presidente.

O voto decisivo da ministra pela condenação foi marcado por um discurso que relembrou a ditadura e a redemocratização. Ela iniciou citando uma poesia de resistência de Affonso Romano de Sant’Anna — “Uma coisa é um país, outra um ajuntamento” — para em seguida argumentar que, embora o período pós-redemocratização não tenha sido perfeito, as instituições sempre reagiram.

No entanto, destacou que “desde 2021, para além da provação mundial da pandemia de covid-19, novos pesares brotaram nessas terras voltadas a objetivos espúrios”, já mostrando desde o princípio que seu voto tenderia a reconhecer a tentativa de golpe e abolição do Estado Democrático de Direito.

“Esse é um processo, como há outros, que temos a responsabilidade constitucional de julgar. Processos que despertam maior ou menor interesse da sociedade, o que não é também nada de novo, seja uma cidade pequena, seja para todo o país. Toda ação penal, especialmente a ação penal, impõe um julgamento justo e aqui não é diferente. O que há de inédito, talvez, nessa ação penal, é que nela pulsa o Brasil que me dói. A presente ação penal é quase um encontro do Brasil com seu passado, com seu presente e com seu futuro na área especificamente das políticas públicas dos órgãos de Estado”, disse Cármen.

Em seguida, a ministra rejeitou as preliminares apresentadas pelas defesas dos réus, que alegavam incompetência do STF e da Primeira Turma para julgar o processo, cerceamento de defesa e nulidade da colaboração premiada de Mauro Cid.

Para a ministra, os discursos iniciados em 2021 contra o Poder Judiciário, culminaram nos atos em que se pedia a intervenção nesse Poder e substituição dos ministros. Segundo ela, todo o encadeamento desses fatos ajudam a demonstrar o uso da violência nos atos golpistas.

Como votaram os outros ministros

Moraes foi o primeiro a votar pela condenação dos réus. Ele rejeitou as preliminares da defesa e manteve uma postura firme e incisiva ao concluir que “não há dúvida de que houve tentativa de golpe”. Além disso, afirmou que as provas apontam o ex-presidente como “líder da organização criminosa”.

Entre as evidências, citou a agenda do general Augusto Heleno com registros sobre “o planejamento prévio da organização criminosa de fabricar um discurso contrário às urnas eletrônicas”; o plano “Punhal Verde Amarelo” — que previa o assassinato de autoridades como Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e o próprio Moraes —; a “Operação Luneta” com detalhamento tático do golpe; transcrições de áudios entre militares sobre operações ‘Punhal Verde e Amarelo’ e ‘Copa 2022’; e diálogos entre Alexandre Ramagem e Bolsonaro.

Foto: Rosinei Coutinho / STF

Em seguida, o ministro Flávio Dino acompanhou o relator. Em seu voto, ironizou as pressões do governo de Donald Trump e rebateu ataques e críticas à Corte. “Espanto alguém imaginar que alguém chega no Supremo e vai se intimidar com um tweet. Será que as pessoas acreditam que um tweet de uma autoridade de um governo estrangeiro vai mudar um julgamento no Supremo? Será alguém imagina que um cartão de crédito ou o Mickey vão mudar o julgamento no Supremo?”, criticou o magistrado.

Apesar de ter votado pela condenação de todos os réus, Dino defendeu penas menores para Alexandre Ramagem, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira por “menor participação na trama golpista”. Afirmou ainda que “esses crimes já foram declarados pelo plenário do Supremo Tribunal Federal como insuscetíveis de indulto, de anistia”.

Em divergência durante o voto mais longo entre os ministros, que durou cerca de 14 horas, Luiz Fux absolveu Bolsonaro e outros cinco dos oito réus do núcleo considerado crucial para o plano de golpe pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele condenou apenas o tenente-coronel Mauro Cid e Walter Braga Netto por tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

*Com informações de Terra