Jessica Alves contou que está cansada de fazer plásticas - Foto: Divulgação
Com a idade, ou por herança genética, o tecido ao redor dos olhos pode ir perdendo a sustentação, gerando excesso de pele nas pálpebras. Para algumas pessoas, esse é um detalhe estético que incomoda. Para outras, pode levar à sensação de olhos pesando e até prejuízos à visão.
Diante dessas situações, muitos têm recorrido à blefaroplastia. Apenas no ano passado, foram cerca de 2,1 milhões de procedimentos em todo o mundo, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), um crescimento de 13,4% em relação a 2023. Com a alta, a técnica ultrapassou a lipoaspiração e agora é a cirurgia estética mais realizada no mundo.
O relatório da ISAPS aponta uma tendência de crescimento nas intervenções faciais, incluindo enxertos de gordura e lifting facial, além da continuidade do interesse por procedimentos não cirúrgicos, como uso da toxina botulínica (botox) e do ácido hialurônico, que somaram mais de 14 milhões de aplicações em 2024.
Ao todo, foram realizados cerca de 38 milhões de procedimentos estéticos, entre cirúrgicos (17,4 milhões) e não cirúrgicos (20,5 milhões), um aumento de 42,5% em relação a 2020.
Cenário nacional
No Brasil, a blefaroplastia é a terceira cirurgia plástica mais realizada, com cerca de 231 mil operações em 2024. Ela fica atrás apenas da lipoaspiração (289 mil) e da colocação de prótese de mama (233 mil).
Em quarto lugar aparece a abdominoplastia, com cerca de 192 mil operações, seguida pela colocação de prótese de glúteo, com 168 mil.
Já entre os tratamentos não cirúrgicos a toxina botulínica e o ácido hialurônico permanecem como os mais populares, somando respectivamente 351 mil e 176 mil aplicações em 2024.
Ainda de acordo com o relatório, o Brasil é o líder em volume de cirurgias plásticas estéticas no mundo. Foram 2,35 milhões de procedimentos no ano passado. Considerando também as intervenções não cirúrgicas, o total chega a 3,1 milhões, o que coloca o País na segunda posição mundial em número geral de procedimentos estéticos.
Mas o que é a blefaroplastia?
Blefaroplastia é uma palavra de origem grega (blepharos refere-se às pálpebras e plastikós, à forma) utilizada para denominar a cirurgia de rejuvenescimento das pálpebras.
“Basicamente, é a remoção do excesso de pele flácida”, diz Lucas Giordani, dermatologista do Hospital Santa Paula. A operação pode incluir também a retirada da gordura que se acumula nessa região dos olhos, formando bolsas.
O procedimento pode ser voltado à pálpebra superior ou inferior, e cada uma tem características e desafios técnicos distintos, segundo a dermatologista Eliandre Palermo, da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-SP).
Já a cirurgia na pálpebra inferior é mais delicada porque envolve bolsas de gordura e pode afetar o formato natural dos olhos. Ela pode ser feita por dentro da pálpebra (transconjuntival), sem cortes visíveis, ou com um corte abaixo dos cílios, usando técnicas para manter o contorno natural.
Mas nem sempre o problema é só excesso de pele ou gordura. Como lembra Suzana Matayoshi, diretora de cirurgia plástica ocular do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), às vezes o músculo que levanta a pálpebra está fraco, causando um quadro chamado “ptose palpebral”. Na ptose, a pálpebra cai em excesso, recobrindo o globo ocular. Nesses casos, a cirurgia precisa ir além e envolver também essa estrutura muscular.
Outros métodos
Existem outros procedimentos para flacidez das pálpebras, como a injeção de substâncias específicas, uso de laser e ultrassom microfocado, que ajudam a amenizar o quadro.
Também é possível realizar a chamada “blefaroplastia a laser” ou “lifting de pálpebras”. O laser substitui o bisturi, o que reduz o risco de hematomas, mas os resultados não são muito duradouros.
Como destaca Eliandre, essas abordagens são as mais indicadas para quem apresenta flacidez leve, podendo ser uma boa escolha para pacientes mais jovens ou como complemento após cirurgias anteriores.
“Mas, com o tempo, essa flacidez tende a se acentuar e o procedimento cirúrgico pode acabar sendo inevitável, caso a pessoa deseje uma correção mais efetiva”, explica Giordani.
Quais os riscos?
Segundo os especialistas, os riscos são baixos, mas existem. “Milímetros fazem a diferença entre um bom resultado e um mau resultado”, diz Cury, ressaltando a importância de buscar um profissional habilitado.
Há os riscos comuns em qualquer cirurgia plástica, como formação de hematomas, infecções, cicatrizes inestéticas, assimetrias e alterações temporárias na sensibilidade local, e aqueles específicos, que incluem:
Remoção de pele em excesso
A remoção exagerada de pele, especialmente na pálpebra inferior, pode levar a uma retração que faz com que a pálpebra fique voltada para fora e se afaste do globo ocular, dificultando o fechamento dos olhos e prejudicando a lubrificação (ectrópio).
Visão
Também há riscos oculares, principalmente relacionados a sangramentos. “Se o sangramento não for controlado, o sangue pode ir para a região da órbita ocular e causar até cegueira. É raro, mas pode acontecer”, diz Suzana. Podem ocorrer ainda distúrbios visuais diversos.
Ptose não diagnosticada
Outro risco é a ineficiência do tratamento. Suzana lembra que é relativamente comum um paciente ter ptose – quando a pálpebra superior cai e passa a cobrir parte do globo ocular, devido à flacidez muscular – sem diagnóstico. “Aí o cirurgião remove só a pele, e a pálpebra continua assimétrica”, explica.
Prazo
Não é um risco, mas é importante lembrar que a pele do corpo tende a ficar mais flácida com o passar dos anos. Ou seja, o efeito da cirurgia não é permanente. “Depois de 10, 15 anos, a flacidez pode voltar a se acentuar, sendo necessária uma nova intervenção”, diz Giordani.
Sinais de alerta
Nos dois primeiros dias pode haver sangramento leve, mas se ele persistir ou vier acompanhado de secreção amarelada é preciso procurar o médico, pois pode ser sinal de infecção.
Além disso, sentir dor nos olhos após o procedimento é um indicativo de alerta. Hematomas súbitos ou secreção purulenta também são indícios de que algo pode estar errado. Nesses casos, é importante buscar atendimento.
Como é o pós-operatório?
“O ideal é que o paciente siga os cuidados necessários por pelo menos uma semana”, orienta Suzana. Deve-se evitar esforço visual prolongado, como uso contínuo de telas, e suspender atividades físicas, como musculação, por pelo menos 15 dias.
Na primeira semana, é comum o aparecimento de inchaço e hematomas. Compressas com soro gelado, pomadas e colírios são recomendados para aliviar os sintomas e promover a cicatrização.