Foto: Marcos Vergueiro / Secom-MT

O desmatamento no Brasil caiu pelo segundo ano seguido em 2024, de acordo com o relatório anual da Rede MapBiomas divulgado hoje. A redução foi de 32,4% em relação a 2023.

Pela primeira vez desde o início da validação e publicação de alertas de desmatamento no Brasil, em 2019, houve queda no desmatamento em todos os biomas, com exceção da mata atlântica, que se manteve estável. Nesses seis anos, o desmatamento no Brasil suprimiu uma área equivalente a uma Coreia do Sul. Foram 9.880.551 hectares, dos quais 67% ficam na Amazônia Legal.

Desmatamento em queda. A área total desmatada no país recuou 32,4% em relação a 2023, enquanto o número de alertas validados (os confirmados pelas autoridades competentes) caiu 26,9%. Nos seis biomas brasileiros, o desmatamento somou 1.242.079 de hectares em 2024, contra 1.829.597 em 2023. Este é o segundo ano consecutivo de redução no desmatamento: em 2023, a retração foi de 11,6% em comparação com 2022.

Cerrado é o bioma com maior área desmatada pelo segundo ano seguido. Em 2024, foram 652.197 hectares, o que equivale a 52,5% do total desmatado no Brasil. A região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) concentrou 75% do desmatamento do cerrado e cerca de 42% de toda a perda de vegetação nativa no país. Apesar disso, houve uma queda de 40% no total em relação a 2023.

Maranhão lidera o ranking de estados desmatadores. Mesmo com redução de 34,3% na área desmatada, o estado responde por 17,6% da área de vegetação perdida no país. Na sequência estão Pará, Tocantins, Piauí e Bahia. Esses estados respondem por mais de 65% da área desmatada no Brasil.

Amazônia concentra 30,4% da área desmatada no Brasil (377.708 hectares). É o segundo bioma mais afetado e, junto com o cerrado, responde por quase 89% da área desmatada em 2024.

O Pará é o estado com maior área desmatada no acumulado de 2019 a 2024. O estado que vai sediar a COP30 desmatou 1.984.813,8 hectares em seis anos.

Acre é o único estado da Amazônia com alta no desmatamento. Em 2024, a maioria dos estados amazônicos apresentou queda na área desmatada, com exceção do Acre, que registrou aumento de 31%. Apesar disso, a região conhecida como Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia) teve queda de 13% no desmatamento, quando comparado a 2023.

Grupo Especializado de Fiscalização (GEF) do Ibama combate desmatamento e garimpo de cassiterita na Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto, Amazonas – Foto: Vinícius Mendonça / Ibama

Caatinga teve o maior caso de desmatamento em 2024. Foram desmatados 13.628 hectares em um único imóvel rural no estado do Piauí, dentro de uma janela temporal de três meses, o equivalente a seis hectares por hora. No total, a caatinga foi o terceiro bioma mais desmatado, com 14% de área perdida (174.511 hectares).

Pantanal, pampa e mata atlântica respondem 3,1% da área total de desmatamento no Brasil. O pampa aparece com a menor área de desmatamento do relatório: 0,1% do total, ou 896 hectares. O Pantanal tem 1,9% ou 23.295 hectares, e a mata atlântica, 1,1%, ou 13.472 hectares.

Impacto das enchentes no RS. A mata atlântica teve alta de 2% no desmatamento, valor considerado estável. Os resultados foram influenciados pelos eventos climáticos extremos que atingiram o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024, onde a perda de vegetação nativa teve alta de 70%. Sem esses eventos, o bioma teria registrado uma redução no desmatamento de pelo menos 20% no estado em relação ao ano anterior, de acordo com o relatório.

Amazônia perdeu em média 7 árvores por segundo. O número de alertas com área maior que 100 hectares teve uma redução de 31% em relação a 2023. Ao longo do ano passado, a área média desmatada por dia foi de 3.403 hectares, ou 141,8 hectares por hora. No caso da Amazônia, foram 1.035 hectares por dia, ou cerca de 7 árvores por segundo. No cerrado, o ritmo da perda foi mais intenso: 1.786 hectares por dia. O dia com maior área desmatada no Brasil em 2024 foi 21 de junho. Em um único dia, foi desmatada uma área equivalente a 3.542 campos de futebol. Em 2024, a área média desmatada por dia no Brasil foi de 3.403 hectares – ou 141,8 hectares por hora.

Análise dos dados

Causas do desmatamento. Mais de 97% de toda a perda de vegetação nativa no Brasil nos últimos seis anos ocorreu por pressão da agropecuária. Outros vetores têm peso distinto de acordo com o bioma. No caso do garimpo, por exemplo, 99% de toda área desmatada por essa atividade está localizada na Amazônia. Já no caso de desmatamentos associados aos empreendimentos de energia renovável desde 2019, 93% deles estão concentrados na caatinga. O cerrado, por sua vez, concentra 45% da área desmatada relacionada à expansão urbana em 2024.

Maior parte da degradação no cerrado ocorre de forma legal. O Código Florestal exige a preservação de apenas 20% do cerrado. O percentual sobe para 35% nas áreas do bioma localizadas na Amazônia Legal, o que representa apenas 37% de todo o cerrado. Com apenas 3% do território em proteção integral, a expansão da agricultura avança, sendo uma das principais causas do desmatamento

Desmatamento e clima

Monitorar o desmatamento é essencial para acompanhar as mudanças climáticas que afetam o dia a dia e a economia nacional. O desmatamento reduz a umidade no ar, desequilibra o ciclo da água e intensifica o aquecimento global, afetando diretamente o regime de chuvas e o clima.

De acordo com o climatologista Carlos Nobre, a queima de florestas nativas para dar espaço a pastos e monoculturas na Amazônia e no cerrado está comprometendo o sistema hidrológico do Cone Sul. A retirada da vegetação reduz a infiltração da água da chuva, prejudica a recarga dos lençóis freáticos e o abastecimento das nascentes. Com isso, aumentam as enchentes, a erosão e a evaporação. Na Amazônia, a substituição da floresta enfraquece os “rios voadores”, diminuindo as chuvas no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. No cerrado, o escoamento superficial faz secar nascentes que abastecem grandes bacias hidrográficas.

O impacto do aquecimento global em um único bioma desencadeia uma reação em todos os outros. Como isso acontece? “Grande parte da água que abastece o Pantanal vem da bacia amazônica e do cerrado. Se ultrapassarmos 2,5ºC de aquecimento, a Amazônia será devastada, o que reduzirá significativamente as chuvas na região do Pantanal. Sem essa umidade, o bioma pode se transformar em uma caatinga. E isso já vem acontecendo. O prolongamento das estações secas já resultou em 35% do Pantanal deixando de ficar coberto por água nos últimos 40 anos”, explica Nobre.

Mais de 90% do desmatamento da Amazônia é para abertura de pastagem, aponta MapBiomas – Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Sobre o MapBiomas

O MapBiomas é uma iniciativa colaborativa que reúne universidades, ONGs e empresas de tecnologia para monitorar mudanças no uso da terra no Brasil. Com foco na conservação e no uso sustentável dos recursos naturais, a plataforma oferece dados públicos e gratuitos, sendo referência mundial em mapeamento ambiental. A rede também atua em outros 13 países e desenvolve projetos como o MapBiomas Alerta, que valida e detalha alertas de desmatamento com imagens de satélite e cruzamento de dados geográficos.

*Com informações de Uol