
A revelação de um esquema de fraude bilionária envolvendo o INSS abalou o governo federal e expôs falhas na proteção de dados dos aposentados e pensionistas. A operação Sem Desconto, da Polícia Federal, resultou no afastamento de servidores de alto escalão, incluindo o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.
Apesar do impacto, o Palácio do Planalto afirma que a situação está “sob controle” e que o governo Lula agiu assim que teve conhecimento dos fatos. A narrativa oficial busca responsabilizar gestões anteriores, especialmente a do ex-presidente Jair Bolsonaro, onde os primeiros indícios teriam surgido.
escândalo envolvendo descontos indevidos em benefícios do INSS tomou proporções nacionais e gerou uma das maiores crises enfrentadas pela gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até agora. A deflagração da Operação Sem Desconto pela Polícia Federal revelou um esquema que teria movimentado R$ 6,3 bilhões em fraudes, com prejuízos diretos aos aposentados e pensionistas da Previdência Social.
Em meio à pressão, o governo tenta se reposicionar politicamente. O discurso oficial é o de que a situação está “sob controle” e que a atual gestão agiu de forma diligente assim que os primeiros indícios de fraude no INSS chegaram aos seus quadros. No entanto, documentos internos e relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) apontam que a demora em tomar providências pode ter agravado a situação.
A oposição já articula uma ofensiva no Congresso Nacional, cobrando explicações de autoridades envolvidas e pedindo o afastamento do ministro da Previdência, Carlos Lupi, que resiste no cargo com apoio do Palácio do Planalto. A crise atinge também o núcleo administrativo do INSS, com o afastamento de diretores e coordenadores suspeitos de omissão ou conivência com o esquema.
Como começou o escândalo dos descontos indevidos
O modelo fraudulento investigado pela Polícia Federal baseava-se na adesão forçada de beneficiários do INSS a entidades de classe, muitas vezes sem que os aposentados sequer soubessem que estavam sendo filiados. Essas entidades obtinham autorização para descontar mensalidades diretamente no benefício dos segurados, sob a justificativa de representatividade ou prestação de serviços que nunca eram ofertados.
A brecha que permitia esse tipo de desconto era o Acordo de Cooperação Técnica (ACT), firmado entre as entidades e o INSS. Em tese, esses acordos deveriam facilitar parcerias legítimas, mas foram usados para aplicar golpes em larga escala. A investigação revelou que cerca de 70% das entidades conveniadas descumpriram obrigações legais, como a apresentação de documentos que comprovem autorização expressa dos segurados.
A maioria das vítimas só percebeu o golpe ao notar valores indevidos no contracheque. Em muitos casos, os descontos somavam entre R$ 20 e R$ 40 mensais, valores considerados baixos o suficiente para passarem despercebidos por longos períodos — o que facilitou a perpetuação da fraude.
O que fez o governo Lula após a descoberta
Segundo fontes do Ministério da Previdência, o ministro Carlos Lupi foi oficialmente alertado sobre a suspeita de irregularidades ainda em junho de 2023. No entanto, o assunto só foi incluído na pauta de uma reunião do Conselho Nacional da Previdência Social em abril de 2024. Durante esse intervalo, mais de 1.300 entrevistas com beneficiários indicaram que a maioria nunca autorizou os descontos realizados.

Diante da pressão, o governo decidiu afastar o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e cinco outros servidores de alto escalão. O objetivo era sinalizar controle da situação e garantir que a investigação avançasse sem interferências. Ainda assim, o governo se esforça para demonstrar que a origem do problema remonta a gestões anteriores, especialmente à do ex-presidente Jair Bolsonaro, período em que teriam se intensificado os convênios com entidades suspeitas.
A estratégia política de Lula é evitar o desgaste direto sobre sua gestão. O Palácio do Planalto instruiu ministros e líderes a reforçarem o argumento de que a atual administração está corrigindo erros herdados e tomando as providências necessárias.
Quem foi afastado e o que a PF encontrou
Além de Stefanutto, foram afastados pela Justiça:
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Virgílio Ribeiro de Oliveira Filho (procurador-geral do INSS);
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Vanderlei Barbosa dos Santos (diretor de Benefícios e Relacionamento);
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Giovani Batista Fassarella Spiecker (coordenador de Suporte ao Atendimento);
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Jucimar Fonseca da Silva (coordenador de Pagamentos e Benefícios);
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Um agente da Polícia Federal, cuja identidade não foi divulgada.
Durante as buscas realizadas pela PF em 13 estados e no Distrito Federal, foram apreendidos carros de luxo, dinheiro em espécie, joias, obras de arte e documentos falsificados. O Ministério da Previdência e a CGU acompanham de perto a apuração.
Entre os crimes investigados estão corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, organização criminosa e violação de sigilo funcional.
Como o beneficiário pode se proteger
Para os milhões de segurados do INSS, o mais importante é verificar regularmente o extrato de pagamento no aplicativo ou site Meu INSS. Caso identifique valores não reconhecidos, o aposentado ou pensionista pode solicitar a exclusão do desconto diretamente pela plataforma, sem a necessidade de ir até uma agência.
O procedimento é gratuito e deve ser finalizado em até 5 dias úteis. O Ministério da Previdência também criou um canal de denúncias específico para esse tipo de irregularidade. Até o momento, não há previsão oficial para reembolso dos valores já descontados indevidamente, mas a CGU afirmou que pretende propor mecanismos de compensação ao final da investigação.
Carlos Lupi resiste, e governo mantém aliança com o PDT
Mesmo sob forte pressão da oposição, o ministro Carlos Lupi permanece à frente da pasta. A avaliação do núcleo político do governo é que sua saída neste momento criaria instabilidade e poderia comprometer a aliança com o PDT, considerado um partido estratégico para as eleições de 2026.
