Os pesquisadores estimam que não há mais de 200 indígenas na tribo da Ilha Sentinela do Norte - Foto: INDIAN COASTGUARD / SURVIVAL INTERNATIONAL / BBC News Brasil

Um turista americano partiu sozinho na semana passada em um bote inflável para a remota ilha de North Sentinel, no Oceano Índico. Ele havia levado uma Coca-Cola Diet e um coco como oferenda para a tribo altamente isolada que vive lá, e também uma câmera GoPro na esperança de filmar o encontro, informou a polícia indiana.

Guiado por navegação GPS, Mykhailo Viktorovych Polyakov, de 24 anos, chegou à costa nordeste da ilha às 10h do dia 29 de março, segundo a polícia. Ele examinou a terra com binóculos, mas não viu ninguém. Então, desembarcou, deixou a Coca-Cola Diet e o coco lá, pegou amostras de areia e gravou um vídeo, disse a polícia.

Polyakov foi preso em 31 de março, quando retornou a Port Blair, capital das Ilhas Andaman e Nicobar, um arquipélago a mais de 1,3 mil quilômetros do continente da Índia, disseram as autoridades.

Poucos forasteiros estiveram na ilha de North Sentinel, um território da Índia cuja visita é considerada ilegal. As regulamentações do governo indiano proíbem qualquer interação de forasteiros com a tribo isolada; os membros caçam com arco e flecha e matam invasores por pisarem em sua costa.

Em 2018, um missionário americano, John Allen Chau, partiu para a ilha com uma Bíblia. Ele foi atingido com arcos e flechas por integrantes da tribo quando chegou à costa, informaram posteriormente as autoridades indianas. Pescadores que ajudaram a levar Chau a North Sentinel disseram à polícia que viram indígenas arrastando o corpo dele na praia.

Em 2006, os habitantes de North Sentinel mataram dois pescadores que haviam chegado à costa acidentalmente.

Mas o Polyakov não se intimidou. Ele havia planejado sua jornada “meticulosamente”, disse a polícia, estudando as condições do mar, as marés e a acessibilidade da Praia de Khurmadera, localizada na ilha de Andaman.

Mesmo depois de se afastar de North Sentinel, Polyakov tentou atrair a atenção do povo a ilha, soprando um apito de seu barco, disse a polícia. Ele foi acusado de tentar “interagir com a tribo sentinela”, disse a polícia de Andaman em um comunicado.

Polyakov está detido sob acusações que incluem a violação de uma lei que protege tribos aborígenes e tem previsão de comparecer ao tribunal em 17 de abril. As acusações acarretam uma possível pena de até cinco anos de prisão e multa.

“Suas ações representaram uma séria ameaça à segurança e ao bem-estar do povo sentinela, cujo contato com estranhos é estritamente proibido por lei para proteger o modo de vida indígena”, dizia o comunicado.

A polícia disse que, durante o interrogatório, ele revelou que foi atraído para a ilha por uma “paixão por aventura e seu desejo de realizar desafios extremos”. As autoridades acrescentaram que as imagens de sua GoPro sugeriam a entrada na ilha e que ele usou navegação GPS durante toda a sua viagem.

“Ele estava particularmente fascinado pela mística do povo sentinela”, disse a polícia, acrescentando que as autoridades haviam extraído imagens da câmera GoPro.

Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que o órgão estava “ciente de relatos da detenção de um cidadão americano na Índia”, mas não tinha mais comentários devido a questões de privacidade.

Os familiares de Polyakov não foram encontrados. Polyakov registra suas façanhas de viagem em seu canal no YouTube, que inclui vídeos dele no “Afeganistão controlado pelo Talibã”, alguns dos quais envolvem posar e disparar armas.

A polícia disse que ele havia feito viagens anteriores à região remota. Em outubro, funcionários de um hotel impediram sua tentativa de ir à Ilha North Sentinel usando um caiaque inflável, disse a polícia.

A Survival International, um grupo que protege os direitos dos povos tribais indígenas em todo o mundo, disse que a tentativa de contato de Polyakov com o povo tribal de North Sentinel foi “imprudente e idiota”.

“As ações dessa pessoa não apenas colocaram sua própria vida em perigo, como também colocaram em risco a vida de toda a tribo sentinela”, disse a diretora do grupo, Caroline Pearce, em um comunicado. “Já é muito bem sabido que povos não contatados não têm imunidade a doenças externas comuns, como gripe ou sarampo, que poderiam dizimá-los completamente.”

*Com informações de Terra