No artigo da semana, o advogado criminalista Felix Valois volta a publicar suas bem-traçadas linhas e conta alguns sobressaltos que enfrentou logo no início do ano, em plenas férias de família.
Fala sobre os rompantes imperialistas de um empolgado recém-empossado Donald Trump e de ‘espetáculos deploráveis’ protagonizados pelo clã dos Bolsonaro, aqui mesmo no Brasil e em terras internacionais também.
Leitura mais que recomendada, como sempre.
Minhas Férias (Por Felix Valois)
Dei-me trinta dias de férias. O período, de ócio absoluto, foi entremeado por alguns episódios no mínimo bizarros. Eram oito horas da noite de 31 de dezembro. Eu estava no Rio de Janeiro e, enquanto sorvia uma dose de Johnnie Walker vermelho, preparando-me para a queima de fogos em Copacabana, fiz uma chamada de vídeo para minhas netas, em Manaus. Além de lhes desejar feliz ano novo, disse-lhes, com ênfase talvez exagerada, que a saudade estava quase no nível do insuportável. Pois muito que bem. Logo em seguida, recebo um telefonema do Petronilo Aquino, meu companheiro de infância. Trocadas as gentilezas e cumprimentos, pergunto-lhe onde pretendia passar a meia-noite. A resposta foi como um soco no plexo solar: “Vou dormir, meu amigo. Não tenho ânimo para festejar. Hoje era o aniversário da Elza”. Que crueldade: Elza era sua única filha, gentil e bonita, que foi vítima do Covid. Sabem o que é ter vergonha de ter tido saudade? Foi algo assim que senti. Se a minha era insuportável, como posso classificar a do companheiro? A dele diz respeito à ausência absoluta, ao olhar para o nada, perguntar e não obter resposta. É. Decididamente, eu senti vergonha.
Já no comecinho do ano, vejo a nação inteira ser vítima da mais deslavada mentira, entre as muitas que as redes sociais ensejam. Um alucinado, desses que usam perucas louras sem nenhuma necessidade, espalhou que o governo federal iria fazer incidir taxas sobre o pix, além de estabelecer medidas fiscalizatórias e restritivas a esse tipo de transação bancária. Foi um deus-nos-acuda. O governo, por pura displicência ou negligência, não tinha vindo ao povo esclarecer o de que realmente se tratava, permitindo que a mentira encontrasse solo fértil para crescer. Ela tomou vulto e se agigantou, fazendo com que nossa gente, já tão escaldada pela voracidade do fisco, entrasse em pânico geral. Era a vitória completa e gloriosa da deslealdade e da insensatez. Que o exemplo sirva de lição. Os inimigos do estado democrático de direito não estão mortos. Muito ao contrário: vivos e, desesperados, não têm medidas quando se trata de encontrar meios para solapar a normalidade institucional.
Depois, veio a posse do presidente Donald Trump. Bolsonaro, que ainda não conseguiu se dar conta de sua insignificância, disse ter sido convidado para o evento e enviou pedido patético ao Supremo Tribunal Federal. Rogava que lhe fosse devolvido o passaporte, apreendido como parte das medidas restritivas impostas em razão dos inúmeros crimes por que é investigado. Que espetáculo deplorável. Primeiro, nunca houve convite algum e, segundo, a Suprema Corte respondeu com um sonoro “não” à pretensão descabida, que era uma forma de facilitar a fuga do indiciado.
Não foi, mas mandou representantes à altura. Michelle e Eduardo, ambos do mesmo sobrenome, voaram para Washington, envergaram trajes de gala e foram obrigados a curtir ao ar livre uma tremenda nevasca que se abateu sobre a capital americana. Posse mesmo, tiveram que se contentar em assistir pela televisão, pois, tal como o patriarca, não tinham sido convidados. Fico a me perguntar: como é possível existirem pessoas nas quais o senso do ridículo foi completamente obliterado? Vendo as imagens da desolação bolsonarista, veio-me à lembrança o baile de segunda-feira gorda, do Rio Negro. Armava-se uma passarela na avenida Epaminondas, em frente ao clube. Por ela, tinha acesso à festa carnavalesca toda a burguesia manauara. Era um desfile de smokings, fraques, vestidos longos e fantasias deslumbrantes. O baile exigia traje a rigor ou fantasia de luxo. Em volta da passarela o terceiro estado se aglomerava para apreciar o espetáculo. Era o público do famoso “sereno”. Da festa em si, esse povo só conseguia ouvir, por volta das onze horas, o toque do clarim, que iniciava a execução de “Cidade Maravilhosa”. Não vá o sapateiro além das sandálias.
Agora é o momento das deportações em massa. O que deveria ser um simples episódio administrativo se transmuda em manifestação de barbárie e intolerância. Algemas e grilhões são usados sem qualquer critério, numa ofensa cruel e desnecessária a princípios básicos da dignidade humana. Queriam o quê? Quem faz saudação fascista, pensa como fascista, fascista é. E de um fascista nada de bom se pode esperar.
Ainda bem que minhas férias chegaram ao fim. Já estava receando ser informado de alguma explosão nuclear.
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