A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar o país do Acordo de Paris, anunciada no último dia 21, gerou uma onda de críticas internacionais. Representantes da China e da União Europeia lamentaram a medida e reafirmaram a importância de continuar os esforços multilaterais para combater as mudanças climáticas.
Ambos os blocos destacaram a necessidade de manter o foco nas negociações climáticas da ONU, ressaltando que a mudança climática é um desafio global que exige uma ação conjunta de todas as nações. Guo Jiakun, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, fez questão de enfatizar que o problema da crise do clima não pode ser resolvido isoladamente por nenhum país.
“A mudança climática é um desafio comum enfrentado por toda a humanidade e nenhum país pode permanecer insensível ou resolver o problema sozinho”, afirmou. A declaração do porta-voz foi repercutida pela Agência France-Presse (AFP) e reflete a postura da China, que tem se colocado como líder global na agenda ambiental desde a primeira saída dos EUA do Acordo de Paris, em 2017.
Em outra frente, a União Europeia também se manifestou de maneira firme contra a retirada americana do pacto climático. Durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou que a Europa não mudará seu compromisso com a luta contra o aquecimento global.
“A Europa manterá o curso e continuará trabalhando com todas as nações que querem proteger a natureza e parar o aquecimento global”, disse von der Leyen em entrevista à agência de notícias Associated Press. A postura da União Europeia reflete uma determinação em seguir com as metas estabelecidas no acordo, independentemente da atitude dos EUA.
O vice-chanceler da Alemanha, Robert Habeck, também se posicionou favoravelmente à continuidade da transição energética, mesmo diante do recuo norte-americano. Em Davos, Habeck afirmou que os países europeus devem investir em suas próprias tecnologias e seguir em frente com a agenda climática. “Temos que trazer nossas próprias tecnologias à tona”, afirmou, destacando que a resposta à crise climática deve ser baseada em inovações tecnológicas e políticas energéticas sustentáveis.
Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), também se pronunciou sobre os impactos da saída dos EUA. Durante um painel na CNBC, Stiell foi enfático ao afirmar que o regime multilateral para o clima continuará a avançar, com o investimento global em energias renováveis aumentando de forma significativa.
“O mundo está passando por uma transição energética que é imparável. Só no ano passado, mais de US$ 2 trilhões foram investidos em energias renováveis, enquanto apenas US$ 1 trilhão foi destinado a combustíveis fósseis”, disse ele, reforçando a tendência irreversível de mudança no setor energético.
Especialistas alertam que a retirada dos EUA pode prejudicar sua competitividade no mercado de energias limpas, como painéis solares e veículos elétricos, áreas nas quais a China tem se destacado. Li Shuo, especialista em diplomacia climática, afirmou à Reuters que “a China tende a ganhar, enquanto os EUA correm o risco de ficar ainda mais para trás”.
A postura de Pequim e Bruxelas nesta nova saída dos EUA do Acordo de Paris se assemelha à reação ocorrida em 2017, quando Trump havia retirado o país do acordo pela primeira vez. Naquela ocasião, tanto a China quanto a União Europeia se posicionaram como alternativas para preencher o vácuo de liderança deixado por Washington, defendendo a continuidade do esforço multilateral para combater as mudanças climáticas. Contudo, o contexto atual apresenta novos desafios para os dois blocos, que agora enfrentam uma maior resistência política e a necessidade de superar a crise econômica global e tensões geopolíticas.
Entre os impactos dessa nova retirada dos EUA, destaca-se o déficit no financiamento climático internacional, que perde pelo menos US$ 11 bilhões, valor prometido pela administração do ex-presidente Joe Biden. Além disso, a omissão dos Estados Unidos poderá ter efeitos de longo prazo no cumprimento das metas de limitação do aquecimento global a 1,5°C.
Com informações de Um Só Planeta