No alto do carro de som em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela d’Ávila (PC do B) foram chamados por Lula (PT). Era o dia 7 de abril de 2018, e o atual presidente dava seu último discurso antes de ser preso, alvo da Operação Lava Jato.
“Não adianta tentar me impedir de andar por este país, porque tem milhões e milhões de Boulos, de Manuelas, de Dilmas Rousseffs neste país para andar por mim”, afirmou.
Seis anos depois, o petista subiu no palanque novamente com Boulos, que tenta se eleger prefeito de São Paulo. Já Manuela preferiu ficar na retaguarda, não sem participar de campanhas na eleição de 2024.
A ex-deputada federal e candidata a vice-presidente em 2018 atua como consultora.
Ela é sócia da Davila & Schaidhauer, que, na eleição deste ano, prestou serviço para sete campanhas —a de Boulos é uma delas— e recebeu a soma de R$ 1 milhão em pagamentos até agora, segundo dados registrados no portal do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Em nota, Manuela afirma que suas atuações nas campanhas “dependem das especificidades do contrato”.
Em São Paulo, ela “tem a responsabilidade de coordenar a estratégia, produção de conteúdo e administração de redes sociais de Guilherme Boulos”, diz a assessoria de imprensa da candidatura do PSOL, que pagou R$ 470 mil para a empresa da ex-deputada do PC do B.
A Davila & Schaidhauer também recebeu R$ 300 mil da campanha de Natália Bonavides (PT), que está no segundo turno em Natal, e R$ 160 mil de Talíria Petrone (PSOL), derrotada em Niterói (RJ). Foi contratada também por quatro candidatos do PC do B à Câmara Municipal de Porto Alegre, tendo dois deles sido eleitos: Giovani Culau e Erick Dênil.
Manuela teve uma derrota na campanha em que foi mais atuante, a de Abgail Pereira (PC do B), que tentou um novo mandato como vereadora. A ex-deputada gravou vários vídeos para a candidata e participou de eventos na rua com ela, que não conseguiu se eleger. Abgail pagou R$ 76 mil para a Davila & Schaidhauer.
Ao mesmo tempo em que atua nos bastidores, Manuela faz análises sobre o desempenho da esquerda no cenário brasileiro, o que inclui, claro, as eleições de 2024, em que partidos da corrente política tiveram dificuldades nas disputas para prefeituras.
Em debate promovido pelo portal ICL, ela se definiu como uma “mulher sem partido”. “Esta é minha reflexão individual e coletiva daqueles que militam comigo. Hoje sou uma mulher sem partido, por isso posso criticar todos eles”, afirmou.
“Eu sou [sem partido] por falta de opção, por falta de condições de qual caminho seguir”, refletiu. “Eu não sei para onde estou indo, não me acompanhe”, concluiu em tom de brincadeira.
Aos aliados políticos e aos clientes de sua empresa ela afirmou que sua migração para a área de estratégia é definitiva. Questionada sobre seu futuro profissional e se havia oficializado a desfiliação do PC do B, onde atuou por 25 anos, a assessoria da ex-deputada afirmou que “Manuela não comentará sobre sua vida politica até o final do processo eleitoral”.
Aos 43 anos, Manuela acumula no currículo experiência da política estudantil, como presidente de diretório acadêmico e dirigente da UNE.
Na migração para a política partidária, teve uma ascensão rápida. Foi eleita a vereadora mais jovem de Porto Alegre em 2004, quando tinha 23 anos. Em 2006, conquistou uma cadeira na Câmara dos Deputados, com mais de 270 mil votos, e reelegeu-se, em 2010, com mais de 482 mil.
Tentou três vezes, sem sucesso, eleger-se prefeita de Porto Alegre, em 2008, 2012 e em 2020. Dois anos depois, em 2022, estreou como consultora em campanhas. Seu primeiro trabalho foi na disputa pelo Governo de Minas Gerais, com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD).
Com apoio de Lula e dos partidos da esquerda, ele perdeu para Romeu Zema (Novo) no primeiro turno.
Dois anos após a derrota, a empresa de Manuela cobra na Justiça R$ 1,5 milhão do PSD de Belo Horizonte e diz não ter recebido pelo serviço prestado. O litígio foi revelado pelo site O Fator, em setembro.
Questionada, a assessoria da empresa disse que não comenta “casos ainda em análise pela Justiça”.
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