Márcio Souza, nasceu em Manaus e sua obra sempre abordou temas amazônicos (Foto: Camila Henriques / G1 AM)

O infarto de Márcio Souza no dia 12 de agosto, em Manaus, mudou de última hora os planos para o lançamento de “Amazônia” na França. Tudo estava sendo preparado para que ele estivesse presente neste mês de outubro, mas o escritor brasileiro morreu sem ver a versão francesa do livro. “Foi um choque terrível”, diz a editora Anne-Marie Métailié que tinha pressa em publicar esse livro “político” para “dar um instrumento para lutar” em defesa da Amazônia.

“Amazônia” é a terceira obra do escritor brasileiro Márcio Souza, traduzido e publicado na França pela editora Métalié, depois de “Mad Maria” e “Galvez, imperador do Acre”. O livro é uma síntese do processo histórico da Amazônia do período pré-colombiano aos desafios do século 21. Ele foi publicado inicialmente em português em 2019 e chegou às livrarias francesas em 4 de outubro, menos de dois meses após a morte de Márcio de Souza.

A versão francesa, que traz na capa uma foto de Sebastião Salgado e um prefácio do francês Erik Orsenna, é bem diferente da brasileira. Márcio Souza participou ativamente da adaptação para o francês, fazendo ajustes na narrativa e escrevendo um posfácio inédito, redigido no ano passado. O texto fala da crise ambiental de 2023 provocada pelas queimadas e pela seca histórica, uma crise que se repetiu este ano em proporções ainda maiores.

“Esse livro é um livro político”, afirma Anne-Marie Métailié. A editora lembra que a história foi escrita por quem é da Amazônia. “Ele nasceu em Manaus, viveu em Manaus, gosta da Amazônia e mostra como essa parte do mundo foi maltratada ao longo da história mundial e como os problemas atuais, essas queimadas incríveis, têm relação com à maneira como foi sempre tratada a região desde a colonização”, descreve.

Pressa em publicar o livro na França

Márcio de Souza aborda a Amazônia, presente em nove países da América do Sul, como um subcontinente e sustenta a tese da existência de “uma civilização amazônica”. A solução para a região, segundo o escritor, seria “construir a Amazônia com a gente que mora na Amazônia, para poder desenvolver as coisas de uma maneira racional, adaptada ao chão, ao clima, às necessidades das transações comerciais”, indica Métailié.

A tradução do livro de 10 capítulos e mais de 400 páginas foi feita por três pessoas (Stéphane Chao, Danielle Schramm e Hubert Tézenas) porque a editora tinha pressa em publicar “Amazônia” na França.

“Eu estava com pressa de mostrar o que é a Amazônia. Queria fazer rápido para lançar uma discussão, porque a cada ano a floresta amazônica queima, e são incêndios provocados, não é fatalidade da natureza. Esse livro é tão extraordinário que eu queria colocar ele rápido nas mesas das livrarias para dar um instrumento para lutar”, salienta.

Com informações da Rádio RFI