O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez e a esposa Begoña Gómez (Foto: Javier Soriano)

Declarações do presidente da Argentina, Javier Milei, em uma cúpula da extrema direita em Madri abriram uma crise diplomática “sem precedentes” entre os argentinos e espanhóis — com um impacto inclusive na União Europeia.

Durante o evento que servia de plataforma política para o Vox, partido herdeiro do franquismo, Milei criticou o presidente espanhol, o socialista Pedro Sanchez, e chamou sua esposa, Begona Gomez, de “corrupta”.

“Não sabem que tipo de sociedade e de país o socialismo pode produzir, que tipo de pessoas podem chegar ao poder e que níveis de abuso pode gerar. Mesmo que ele tenha uma mulher corrupta, ele demora cinco dias a pensar nisso”, disse Javier Milei.

Também participaram do evento líderes europeus. O objetivo encontro era reforçar a extrema direita às vésperas das eleições para o Parlamento Europeu, em 9 de junho. O grupo articulou um pacto que inclui a pauta anti-imigração, revisão de medidas para combater o clima e defesa de cristãos.

‘Momento mais grave da história recente’

O líder argentino, apesar de estar em Madri, não se reuniu com o governo espanhol — um gesto considerado como constrangedor para a diplomacia. Mas foi sua fala que abriu uma crise.

Como resposta aos ataques de Milei, o chanceler espanhol, José Manuel Albares, fez uma declaração exigindo que o argentino peça desculpas públicas e qualificou seu gesto como “gravíssimo”. Segundo ele, tal comportamento “não tem precedentes na história das relações internacionais e menos ainda nas relações de dois países unidos por fortes laços de irmandade”.

Num gesto de repúdio, o governo espanhol convocou de volta para Madri sua embaixadora em Buenos Aires. A atitude revela uma ruptura nas relações diplomáticas — ainda que não de forma definitiva.

“É inaceitável que um presidente em exercício, em visita à Espanha, insulte a Espanha e o presidente de Espanha. O presidente argentino levou as relações entre a Espanha e a Argentina ao momento mais grave da nossa história recente”, disparou o chanceler espanhol.

O que disseram

Os ataques foram respondidos pela UE. “Um ataque deste calibre a um Estado-Membro é também um ataque à UE no seu conjunto”, declarou Josep Borrell, chefe da diplomacia da UE.

“Os ataques contra familiares de líderes políticos não têm lugar na nossa cultura: condenamos e rejeitamos, especialmente quando vêm de parceiros”, disse.

A presidenta do Parlamento, Francina Armengol, também criticou a fala de Milei. “Não podemos seguir permitindo discursos que gerem ódio. Tampouco ataques frontais a nossa democracia.”

A acusação de corrupção contra a mulher do presidente do governo ocorre depois que denúncias chacoalharam o governo de Sanchez — elas foram publicadas principalmente em órgãos da extrema direita. O espanhol, porém, decidiu não pedir demissão.

Com informações da coluna de Jamil Chade / Uol