
O governo do Rio Grande do Sul deverá montar escolas de campanha nas cidades mais afetadas pelas enchentes. A informação foi dada pela secretária da Educação do Estado, Raquel Teixeira.
Até a tarde de quarta-feira (15), pelos cálculos da pasta, 1.056 escolas do estado seguiam afetadas pelas enchentes. O número representa cerca de 55% das 2.340 escolas da rede de ensino gaúcha. São mais de 378 mil estudantes afetados, mais da metade do total. Desses, 260 mil ainda estão sem aulas, sendo que, para cerca de 212 mil não há previsão de retorno.
“Nas cidades que foram mais afetadas, algumas delas completamente destruídas, não temos como alugar espaços para colocar os alunos para as aulas, não tem uma igreja para usar como escola”, afirmou a secretária da Educação. “Vamos ter que pensar em escolas de campanha, como construir isso rapidamente, se elas serão de lona ou de outro material. Estamos discutindo isso neste momento”, disse a secretária.
Entre as cidades mencionadas por Raquel Teixeira estão Eldorado do Sul, Roca Sales, Lajeado, Encantado, Estrela e Cachoeirinha. Em alguns municípios da região do Vale do Taquari, como Muçum, escolas que foram destruídas nesta enchente haviam acabado de ser reconstruídas após a destruição causada pelas cheias de setembro de 2023.
O cálculo de unidades afetadas feito pela secretaria tem como base um boletim eletrônico preenchido duas vezes por dia pelos diretores. Inclui as escolas totalmente destruídas, as que tiveram prejuízos parciais, bem como aquelas que não sofreram inundações mas se transformaram em abrigo para quem perdeu a casa (são 88) ou estão sem acesso em razão dos alagamentos e dos danos em ruas, estradas e pontes.
Dos 750 mil estudantes da rede pública, por volta de 490 mil retornaram às aulas em cerca de 1.300 escolas. A maioria é de regiões não atingidas pelas enchentes. “E, mesmo nessas escolas, eu não diria que as aulas estão normais”, afirmou a secretária. “Estão todos profundamente abalados com a situação do estado, então as escolas estão voltadas à reflexão sobre tudo isso, ao acolhimento, a atividades como escrever cartinhas para aqueles estudantes que foram afetados pelas enchentes”, explica.
A secretária concedeu a entrevista à Folha por videoconferência de sua casa, em Porto Alegre, onde passou a trabalhar remotamente e está sem água desde o dia 6. “Se você quiser saber como tomar banho com uma bacia bem pequena de água e ficar limpinha, me pergunte, que estou craque”, diz, tentando manter o bom humor.
A sede da secretaria da Educação foi alagada, a exemplo do Palácio do Governo, e parte dos funcionários está trabalhando em um espaço cedido pela Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), na capital.
SEM ENDEREÇO
Dentre os mais afetados, temos 212 mil alunos que não sabemos quando voltarão às aulas. Não estamos conseguindo nem encontrá-los, são de regiões destruídas. Os mecanismos de busca ativa que tínhamos não funcionam nessa situação. Porque a busca implica em você ter o endereço do aluno, o celular dos pais. Não temos mais essas informações, e as pessoas não moram mais em seus endereços.
Perdemos escolas inteiras, com todos os documentos e dados. Estamos regulamentando com o Ministério Público, o Tribunal de Contas e o Conselho Estadual de Educação uma autorização para que os alunos não precisem da documentação escolar em casos, por exemplo, de transferência.
