O papa Francisco falou contra o que chamou de posições ideológicas inflexíveis e que, segundo ele, podem impedir a Igreja Católica de enxergar a realidade e avançar. A declaração foi feita após o Vaticano permitir bênçãos a casais do mesmo sexo, numa medida criticada por conservadores.
Francisco, que completou 87 anos no domingo (17), fez seus comentários em suas tradicionais saudações de Natal aos membros da Cúria, a administração central do Vaticano.
Nos primeiros anos de seu papado, Francisco transformou as saudações de Natal em uma ocasião para críticas contundentes à burocracia, destacando o que na época chamou de “doenças” e “malefícios”.
Nesta quinta, ele mencionou o debate contínuo entre progressistas e conservadores, 60 anos após o Concílio Vaticano 2, que levou a Igreja Católica ao mundo moderno. “Permaneçamos vigilantes contra posições ideológicas rígidas que, muitas vezes, sob o pretexto de boas intenções, separam-nos da realidade e nos impedem de avançar”, disse ele.
“Somos chamados, ao contrário, a partir e caminhar, como os Magos, seguindo a luz que sempre deseja nos guiar, às vezes por caminhos inexplorados e novas estradas”, acrescentou.
O pontífice aprovou na segunda-feira (18) uma decisão que permite a padres administrarem bênçãos a casais do mesmo sexo sob certas condições e desde que não se assemelhem ao matrimônio e não façam parte de rituais ou liturgias da igreja.
Embora a abertura do papa às bênçãos para casais do mesmo sexo tenha sido bem recebida por muitos, conservadores disseram que isso poderia abalar os fundamentos da fé e até levar a um cisma na igreja.
Desde que foi eleito pelos cardeais há dez anos, Francisco tem tentado tornar a doutrina católica mais acolhedora para pessoas que se sentem excluídas, como membros da comunidade LGBTQIA+, mas sem mudar qualquer parte do ensinamento da igreja sobre questões morais.
Ele disse na reunião de quinta-feira que os cristãos devem estar sempre inquietos e abertos à mudança.
“A fé cristã —lembremos— não se destina a confirmar nosso senso de segurança, a nos deixar acomodados em certezas religiosas confortáveis e a nos oferecer respostas rápidas para os problemas complexos da vida”, disse ele.
Francisco afirmou que quando Deus chama, “ele nos envia em uma jornada e nos tira das nossas zonas de conforto, de nossa complacência com o que já fizemos e, assim, nos liberta”.