Como negócios sustentáveis ajudam a gerar renda e conservar a floresta? Esse foi o assunto do podcast do Conselho Regional de Economia do Amazonas (Corecon-AM) nesta semana, que recebeu como convidado o gerente do Programa de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis na Amazônia (Pensa) da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Wildney Mourão.
Com 15 anos de atuação, a FAS atua em 16 das 42 Unidades de Conservação do Estado do Amazonas, chegando a quase 20 municípios e cerca de 40 mil pessoas impactadas direta e indiretamente. Segundo Wildney, o programa de empreendedorismo da FAS é responsável por estimular e oferecer capacitação e instrumentos para que as pessoas que moram na região possam desenvolver a economia sustentável em seus territórios.
“Estimular a produção que existe dentro das unidades e dentro do setor produtivo das comunidades, mas também apostando na inovação que a gente consegue agregar para que essas comunidades possam ter seus produtos valorizados, sua produção comercializada, e isso consiga trazer qualidade de vida para as populações que ali residem. Então, negócios sustentáveis quando a gente olha para região é estimular a capacidade de empreender olhando para a diversidade e pros ativos que a Amazônia tem”, explica.
Com uma equipe de cinco pessoas e o apoio de consultores, o programa liderado por Wildney atende três pilares fundamentais: capacidade empreendedora das pessoas, que envolve o desenvolvimento de capital humano; finanças, com educação financeira e econômica; e produtos sustentáveis, que trabalha a agregação de valor e a incubação de negócios.
“A nossa incubadora de negócios tem 10 anos, a gente iniciou em 2013, quando incubar negócios de maneira itinerante na Amazônia não existia. E a gente começou agora, em 2023, a colher alguns frutos – alguns negócios começaram a dar resultado, a produção começa a ter valor agregado, os produtos começam a acessar o mercado, a renda das pessoas começa a melhorar”, afirma.
Para Wildney, o empreendedorismo na região amazônica é desafiador por conta de problemas que envolvem logística, comunicação e energia elétrica, que colocam os negócios locais em desvantagem em relação aos de outros estados. No entanto, ele também aposta que a chave para negócios de sucesso está no conhecimento das pessoas que vivem na Amazônia.
“A gente começa o jogo perdendo por 3 a 0, para qualquer atividade econômica na região, logística, comunicação e energia são gols que a gente começa levando antes de iniciar a partida. Mas ainda assim quando você olha pra região, para as pessoas que residem nas comunidades ribeirinhas e indígenas, existe um potencial de conhecimento e sabedoria muito grande, e quando você oportuniza formação, treinamento, a capacidade de pensar e empreender, a gente pode gerar muitos frutos”, diz.
Apesar das dificuldades, Wildney comemora as certificações que a incubadora da FAS carrega, sendo a única da região Norte certificada pelo Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos (Cerne) 1 e 2, padrão de modelo de gestão de incubadoras para gerar, sistematicamente, empreendimentos inovadores bem-sucedidos.
“O modelo de gestão da incubadora da FAS tem uma certificação do modelo de estruturação para desenvolver negócios promissores que serão bem-sucedidos logo menos. Então, a gente fez um trabalho de base para preparar terreno para essa nova etapa do programa, que é justamente pensar como acelerar mais negócios, como apostar na capacidade do ribeirinho. É o empreendedor dentro da floresta gerando impacto para o seu par”, complementa.
Entre as principais cadeias produtivas impulsionadas pela FAS está o turismo de base comunitária. Atualmente, 24 empreendimentos do ramo são apoiados, liderados por comunitários da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã e da região do Baixo Rio Negro. Nos últimos três anos, eles chegaram a R$ 15 milhões de faturamento bruto e cerca de 9.500 turistas atendidos.
Outra produção apoiada é a pesca e venda do pirarucu, por meio da Feira do Pirarucu, que acontece de setembro a dezembro na sede da FAS, e pelo projeto chamado Piraruclub, que tem o objetivo de agregar valor no preço do peixe vendido para hotéis e restaurantes e aumentar o faturamento dos produtores.
“O preço médio do pirarucu no município vendido pelo atravessador era de R$ 3, hoje a gente consegue vender na feira o ticket médio do quilo a R$ 10. O Piraruclub consegue vender pros hotéis e restaurantes a R$ 32. Portanto, a estratégia é de conseguir criar uma narrativa para agregar valor ao produto, para que isso volte para essa galera”, comenta Wildney.
A indústria da moda também pode ser objeto de um novo projeto que está sendo pensado pela equipe de Wildney, que trata sobre a rastreabilidade do couro do pirarucu utilizado em produtos como bolsas, sapatos e peças de roupas. Assim, a intenção é retornar um percentual do lucro das vendas para as pessoas envolvidas no manejo da matéria-prima.
“A gente quer rastrear para que ele chegue na indústria da moda. Vou dar um exemplo, a empresa vende uma bolsa de R$ 10 mil, de couro do pirarucu. Quanto disso volta para quem manejou o pirarucu, cortou e entregou ele na hora da venda? Às vezes não volta nada. Com o sistema de rastreabilidade a gente quer poder incluir o blockchain no processo, e aí quando você compra de uma grande empresa de moda um percentual disso tem que retornar”, afirma.
O presidente do Corecon-AM e apresentador do podcast, Marcus Evangelista, parabenizou a atuação de Wildney no programa de empreendedorismo da FAS e convida a população e os empresários de Manaus para conhecerem mais sobre o trabalho da organização. “A gente tem que divulgar o que de fato é bom. Várias potencialidades foram faladas aqui em meia hora, a questão do pirarucu, do artesanato, turismo, óleos essenciais, e isso é só a ponta do iceberg. Você que está nos assistindo já percebeu que a Amazônia é riquíssima, e é graça a esse tipo de trabalho como o do Wildney à frente da FAS, que leva capacitação e possibilita que a pessoa que tá no interior possa ter uma produção gerando renda para sua família e ao mesmo tempo cuidando do meio ambiente”, ressalta.
Sobre o podcast
O Corecast é um programa de podcast apresentado pelo presidente do Corecon-AM, economista Marcus Evangelista. A cada episódio, personalidades do Estado são convidadas para falar sobre assuntos relacionados à atuação da Economia local e regional. Para conferir o último episódio na íntegra, basta acessar o endereço https://youtu.be/fY1-uck1AHQ.
Para acompanhar o programa e enviar feedbacks e sugestões de pauta, basta acessar os canais oficiais do Corecon-AM no Youtube, Instagram e Facebook (@coreconam).
Com informações da assessoria