Desde o início da pandemia, em 2020, quando os preços dos automóveis e autopeças dispararam, o consumidor brasileiro passou a gastar mais com o carro do que com a alimentação em domicílio e bebidas. O fenômeno segue em alta e, em 2023, a expectativa é que o segmento automotivo movimente R$ 731,7 bilhões, o que representa um crescimento de 9,2% em relação a 2022.
Os dados são da Pesquisa IPC Maps, especializada em potencial de consumo dos brasileiros há quase 30 anos, com base em dados oficiais. No cálculo, são levadas em conta as despesas das famílias referentes a gasolina, etanol, consertos de veículos, estacionamentos, óleos, acessórios/peças, pneus, câmaras de ar e lubrificações/lavagens. Compreende, ainda, aquisição de veículos.
Para se ter uma ideia, somando bebidas (alcoólicas e não alcoólicas) e todos os alimentos para consumo no domicílio, as famílias devem gastar R$ 641 bilhões neste ano. De acordo com o instituto, esse comportamento do consumidor, de gastar mais com o carro do que com a própria alimentação, vem aumentando a cada ano.
Para Marcos Pazzini, responsável pelo IPC Maps, “a crescente demanda por transportes via aplicativos e deliveries, tanto pelo consumidor quanto pelos trabalhadores, justificam essa alta no setor”.
A frota de veículos, incluindo automóveis, ônibus, caminhões e motos, deve passar, em 2023, de 113,4 milhões para mais de 117 milhões. Também está em alta a quantidade de comércio e reparação de veículos. No último ano houve um aumento de cerca de 5,3% das lojas existentes, totalizando atualmente 909.122 empresas automotivas no Brasil.
Frota antiga aumenta gastos
Uma das razões para o aumento da necessidade de manutenção é a tendência do brasileiro, desde o início da pandemia, de buscar carros cada vez mais usados. Portanto, com maior necessidade de reparos.
De acordo com dados da Federação dos Revendedores de Veículos Usados (Fenauto), em agosto, entre autos, comerciais leves e pesados, motocicletas e outros, foram vendidas 1.315.179 unidades usadas em todo o Brasil, resultando em uma elevação de 10,9% sobre o total de julho. Nesse mesmo período, os veículos com 13 anos ou mais de uso foram os mais escolhidos dos consumidores, com 470.845 unidades comercializadas.
A idade dos carros procurados reflete diretamente o poder de compra do brasileiro sendo encolhido. Quando o preço dos carros novos subiu, a população teve que recorrer aos usados, e foi optado por modelos mais antigos a cada galope da inflação, principalmente direcionada ao setor. Por outro lado, os gastos com manutenção, que muitas vezes parecem “invisíveis”, porque não são programados, vêm subindo.
Situação pode piorar
Com a aprovação da reforma tributária, os gastos com manutenção de veículos podem pesar ainda mais no bolso dos consumidores. Apesar da simplificação de tributos à vista, isso não significa que a carga tributária final será menor para o consumidor. Por se tratar de uma alíquota única, economistas preveem que os produtos industrializados, como os carros, ficarão mais baratos, enquanto os serviços aumentarão de preço.
Como a proposta de reforma tributária, aprovada na Câmara dos Deputados, ainda passará pelo Senado, é possível que o texto seja modificado, mas no momento atual, o que se estima é que, quando implantada, a carga nova tributária tenha variação entre 25% e 33%.
“De acordo com o texto que temos agora, não vamos ter uma mudança na carga tributária, mas uma adequação entre quem paga menos e quem paga mais. Se, somados, os impostos devem ficar entre 25% e 33%, os automóveis, que hoje recolhem mais impostos do que isso, serão beneficiados e ficarão mais baratos”, avalia o economista Igor Lucena.
“Por outro lado, o serviço das oficinas, como uma simples troca de pneu, ficará mais caro, porque hoje a carga é menor. Por isso, no fim das contas, ainda não se sabe se ficará mais barato ou mais caro ter um carro na garagem com o passar dos anos”, conclui o especialista.
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