Uma carreira inteira fora do padrão, das decisões em campo às decisões na carreira, transformou Walter Casagrande Jr. em um personagem único do futebol brasileiro. Sua vida dentro e fora de campo agora está detalhada na série documental “Casão – Num Jogo Sem Regras”, que estreou hoje (26) na Globoplay e mostra como o ex-jogador enfrentou seus demônios para continuar vivo.
A série de quatro episódios conta desde a adoração pelos discos na infância até os piores anos nas drogas e “essa mania de viver como se fosse capotar na próxima curva”, nas palavras do próprio Casagrande. Passa também pela adolescência agitada evitando as aulas e como o tímido Waltinho se tornou o rebelde Casagrande.
Uma das passagens marcantes é a morte da irmã Zilda, sua melhor amiga e confidente, que sofreu um infarto e faleceu ainda aos 23 anos. Casagrande, que tinha apenas 15, sofreu demais a perda e carregou o luto por anos. Foi a tentativa de escapar dessa dor que o levou a experimentar cocaína, já em 1982. As consequências seriam terríveis por décadas e deixariam sua vida por um fio.
“Os médicos me falaram ‘você não morreu porque é ex-atleta, seu coração estava acostumado a um batimento cardíaco alto. Se fosse uma pessoa comum, com a quantidade de drogas que você usou, tudo ao mesmo tempo, seu coração teria explodido rapidamente'”, diz Casagrande logo na abertura da série, referindo-se a uma de suas overdoses.
O abuso das drogas é fator presente do início ao fim da série e ganha protagonismo a cada perda sofrida por Casagrande -a irmã Zilda, o amigo Marcelo Fromer, o parceiro Sócrates. A situação parecia não ter mais volta nos Anos 2000: em uma de suas overdoses, caiu no banheiro de casa e foi encontrado pelo filho, que chamou uma ambulância.
“Nesta época eu já pensava: se ele morrer, eu vou entender”, lembra o filho Ugo Casagrande. Foi sob influência da cocaína que ele capotou um carro em 2007, e o episódio levou Casagrande a ser internado em uma clínica para dependentes químicos. Galvão Bueno, Cléber Machado e Serginho Groisman contam suas versões sobre a derrocada do ex-jogador, já nos tempos de comentarista da TV Globo.
A volta por cima, com muito custo, foi coroada com a sexta Copa do Mundo como comentarista, em 2018, a primeira totalmente sóbrio. “Para mim esta é a Copa mais importante da minha vida”, falou ao vivo, chorando e fazendo Galvão Bueno chorar na final. Desde então o comentarista divide seu tempo na TV e no rádio com projetos culturais e palestras de alerta contra as drogas.
Dentro e fora de campo
A série ainda aborda a Democracia Corintiana, a luta pelas Diretas Já e como a relação entre Casagrande e Sócrates, seu grande parceiro no futebol e fora dele, extrapolou a mera amizade. Os dois ficaram afastados durante anos por causa de uma briga boba, até que finalmente se reconciliaram em 2011, meses antes da morte de Sócrates.
Esportivamente, o ex-jogador abre o jogo sobre o atrito que o levou à Caldense em 1981 e ao São Paulo, três anos depois; fala sobre a rixa com Telê Santana e a decepção na Copa do Mundo de 1986.
Casagrande foi vendido ao Porto naquele mesmo ano, depois passou por Ascoli e Torino, voltou ao futebol brasileiro com a camisa do Flamengo e finalmente retornou ao Corinthians em 1994 após marcar um gol contra a favor do Alvinegro, no Pacaembu.
Com informações do Uol